As águas sem lado de lá: por uma ética da ficção

Rodrigo Ielpo

Resumo


No conto “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa, um homem do interior do Brasil parte em sua canoa para aí permanecer, entre as margens, como a formar, como o título indica, a margem ausente de todas as margens. Em “O livro das ignorãças”, do poeta Manoel de Barros, as águas também parecem apontar para esse lugar sem lugar em que as “águas não têm lado de lá.” Assim, por oposição à “terra firme”, as águas aparecem nos dois autores como desterritorialização dos espaços positivos, incitando-nos a refletir sobre uma ética da ficção em que “aquilo que não havia, acontecia”, como lemos no conto de Rosa. O objetivo deste artigo é analisar essa presença das águas nos textos indicados enquanto marca de construção de um regime ficcional em que a dicotomia entre as categorias de verdade e mentira dariam lugar às potências do falso como princípio poético daquilo que Derrida irá chamar de acontecimento.


Palavras-chave


Guimarães Rosa; Manoel de Barros; ficção; acontecimento.

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2238-3824.21.1.98-116

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