Escrever a dor: Marguerite Duras e a escrita literária de si / Writing the Pain: Marguerite Duras and the Literary Self-Writing

Cláudia Tavares Alves

Resumo


Resumo: A escritora Marguerite Duras (1914-1996) publicou, em 1985, A dor, livro que reúne uma série de textos elaborados a partir de anotações em cadernos e diários, incluindo texto homônimo ao livro. Nessa narrativa em específico, é possível reconhecer uma forte carga autobiográfica no relato da espera pelo marido feito prisioneiro durante a Segunda Guerra Mundial. Tal acontecimento acometeu justamente a escritora na década de 1940, quando seu marido naquela época, Robert Antelme, fora levado pelas forças alemãs a campos de trabalho forçado e de extermínio. Posteriormente, os textos originais, isto é, os próprios cadernos de Duras, foram organizados e publicados em novo livro, intitulado Cadernos de guerra e outros textos, algo que possibilitou uma nova abordagem à sua leitura. Sendo assim, e tendo em vista essa última publicação em que constam os diários da escritora – algo que nos permite comparar um texto a partir de suportes distintos –, a intenção desse artigo é explorar os caminhos percorridos por Duras entre a versão registrada em seus diários e a versão publicada em livro. O objetivo principal é investigar como a ideia de escrita de si passa a ganhar ressignificações quando confrontada com um novo processo de ficcionalização e publicação da escrita autobiográfica, o qual chamaremos, enfim, de escrita literária de si. Para tanto, utilizaremos os estudos de Michel Foucault e Jacques Derrida para um embasamento teórico mais aprofundado sobre as noções que regem tal processo de escrita (e reescrita) de uma experiência pessoal.

Palavras-chave: Marguerite Duras; escrita de si; literatura de testemunho; diários.

Abstract: In 1985, the writer Marguerite Duras (1914-1996) published the book The pain, which gathers many texts based on notes from several notebooks and diaries including a homonymous story. In this specific narrative, it is possible to recognize a great number of autobiographical elements from the writer’s life while she tells the pain of waiting for a husband captured during the second world war. The same event happened to the writer during the 1940’s, when her husband at the time, Robert Antelme, was taken by the German army to fields of forced work and extermination. Lately, the original texts, that is, Duras’ notebooks themselves, were organized and published in a new book, something that changed the way we used to read the narrative “The pain”. Therefore, and considering the later publication of the text exactly as it was written in the writer’s diary, the intention of this article is to confront the original text and the final book version of it. The main purpose is to investigate how the idea of self-writing gains different meanings when it faces a new process of fictionalization and publicization of the autobiographical writing, named in this case as a literary self-writing. Studies from Michel Foucault and Jacques Derrida are going to be used as theoretical background on notions that guide the process of writing (and rewriting) a personal experience.

Keywords: Marguerite Duras; Self-writing; Witness Literature; Diaries.


Palavras-chave


Marguerite Duras; escrita de si; literatura de testemunho; diários; Marguerite Duras; Self-writing; Witness Literature; Diaries.

Texto completo:

PDF

Referências


ADLER, Laure. Marguerite Duras. Paris: Gallimard, 1998.

COUTINHO, Ana Paula. Escrever entre ruínas: Marguerite Duras e a dor da memória. Libretos, Universidade do Porto, p. 121-136, abr. 2015. Disponível em: http://hdl.handle.net/10216/104686. Acesso em: 15 jun. 2020.

DERRIDA, Jacques. Morada. Maurice Blanchot. Trad. Silvina Rodrigues Lopes. Viseu: Edições Vendaval, 2004.

DURAS, Marguerite. A dor. Trad. Vera Adami. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

DURAS, Marguerite. Cadernos de guerra e outros textos. Edição estabelecida por Sophie Bogaert e Oliver Corpet. Trad. Mário Laranjeira. São Paulo: Estação Liberdade, 2009.

DURAS, Marguerite. Escrever. Trad. Vanda Anastácio. Lisboa: DIFEL – Difusão Editorial, 2001.

FOUCAULT, Michel. A coragem da verdade: o governo de si e de outros II: curso no Collège de France (1983-1984). Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011.

FOUCAULT, Michel. A escrita de si. In: _____. Ditos e escritos vol. V: Ética, sexualidade, política. Organização e seleção de textos Manoel Barros da Motta. Trad. Elisa Monteiro e Inês Dourado Barbosa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. p. 144-162.

VALLIER, Jean. C’était Marguerite Duras. Paris: Fayard, 2006.

WROBLEWSKI, Ania. Réécrire, revivre, oublier: la genèse et la publication de «La douleur». Interférences littéraires, Université Catholique de Louvain, n. 4, p. 61-74, mai. 2010. Disponível em: http://interferenceslitteraires.be/index.php/illi/article/view/702. Acesso em: 15 jun. 2020.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2238-3824.26.1.163-176

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2021 Cláudia Tavares Alves

Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.