A (re)construção do mito da caverna na obra A invenção de morel, de Bioy de Casares / The (re)construction of the Myth of the Cavern in the Work The Invention of Morel, by Bioy de Casares

Gerizilda Dantas de Souza, Carlos Martins Versiani dos Anjos

Resumo


Resumo: Este artigo discute a relação interdiscursiva existente entre a obra A invenção de Morel, publicada originalmente em 1940, escrita pelo autor argentino Adolfo Bioy Casares, e o discurso filosófico presente no Mito da Caverna, de Platão, publicado no século IV C, a fim de mostrar como o sujeito e, consequentemente, seu discurso podem ser reconfigurados historicamente na interface entre o Mito, a Filosofia e a Literatura. A discussão é realizada por meio do olhar interpretativo e analítico de alguns fragmentos retirados da obra A invenção de Morel, aproximando-os a discursos presentes no Mito da Caverna. Os fragmentos se referem aos dois personagens principais: o Fugitivo, aquele que se vê prisioneiro dos espectros que povoam a ilha para a qual fugiu e dos quais busca se libertar; e Morel, aquele que usa do seu conhecimento para criar e manipular os fantoches que produzem as sombras e aprisionar os que estão em um plano diferente do seu. O objetivo do estudo é encontrar correspondências discursivas em relação à constituição dos sujeitos que Platão apresenta como habitantes da sua caverna. Nessa intenção, utilizamos como principal apoio teórico os estudos de Maingueneau (1997, 2006, 2008), especialmente sua conceituação sobre a categoria de interdiscurso. A obra A Invenção de Morel confirma que todo discurso possibilita, como destaca Maingueneau (2008), uma incessante reconfiguração, na incorporação de outros discursos, apropriados de diferentes realidades sócio-histórico-culturais. Casares (2016), então, se utiliza da mesma base discursiva de Platão para mostrar o homem preso novamente em uma caverna; no entanto, dessa vez, ao adquirir a consciência de que existe um mundo para além das ilusões, opta por dele não participar.
Palavras-chave: interdiscurso; Mito da Caverna; A invenção de Morel, análise do discurso.

Abstract: His article discusses the interdiscursive relationship between Morel’s invention, originally published in 1940, written by argentine author Adolfo Bioy Casares and the philosophical discourse present in Plato’s Myth of the Cave, published in the fourth century BC, in order to show how the subject and, consequently, his discourse can be historically reconfigured at this interface between Myth, Philosophy and Literature. The discussion is carried out through the interpretative and analytical look of some fragments taken from Morel’s invention, bringing them closer to discourses present in the Cave Myth. The fragments refer to the two main characters: the Fugitive, the one who finds himself a prisoner of the spectres that populate the island to which he fled and from whom he seeks to free himself; and Morel, the one who uses his knowledge to create and manipulate the puppets that produce the shadows, and imprison those who are on a plane different from his own. The aim of the study is to find discursive correspondences in relation to the constitution of the subjects that Plato presents as inhabitants of his cave. In this intention, we used, as main theoretical support, Maingueneau’s studies (1997, 2006, 2008), especially in the conceptualization about the category of interdiscourse. Morel’s Invention confirms that every discourse enables, as Maingueneau points out, an incessant reconfiguration, in the incorporation of other discourses, appropriate dwellers of different socio-historical-cultural realities. Casares then uses the same discursive basis as Plato to show the man trapped again in a cave, but this time, by acquiring the awareness that there is a world beyond illusions, chooses not to participate in it.
Keywords: interdiscourse; Myth of the Cave; Morel’s invention, discourse analysis.

Resumo: Este artigo discute a relação interdiscursiva existente entre a obra A invenção de Morel, publicada originalmente em 1940, escrita pelo autor argentino Adolfo Bioy Casares, e o discurso filosófico presente no Mito da Caverna, de Platão, publicado no século IV C, a fim de mostrar como o sujeito e, consequentemente, seu discurso podem ser reconfigurados historicamente na interface entre o Mito, a Filosofia e a Literatura. A discussão é realizada por meio do olhar interpretativo e analítico de alguns fragmentos retirados da obra A invenção de Morel, aproximando-os a discursos presentes no Mito da Caverna. Os fragmentos se referem aos dois personagens principais: o Fugitivo, aquele que se vê prisioneiro dos espectros que povoam a ilha para a qual fugiu e dos quais busca se libertar; e Morel, aquele que usa do seu conhecimento para criar e manipular os fantoches que produzem as sombras e aprisionar os que estão em um plano diferente do seu. O objetivo do estudo é encontrar correspondências discursivas em relação à constituição dos sujeitos que Platão apresenta como habitantes da sua caverna. Nessa intenção, utilizamos como principal apoio teórico os estudos de Maingueneau(1997, 2006, 2008), especialmente sua conceituação sobre a categoria de interdiscurso. A obra A Invenção de Morel confirma que todo discurso possibilita, como destaca Maingueneau (2008), uma incessante reconfiguração, na incorporação de outros discursos, apropriados de diferentes realidades sócio-histórico-culturais. Casares (2016), então, se utiliza da mesma base discursiva de Platão para mostrar o homem preso novamente em uma caverna; no entanto, dessa vez, ao adquirir a consciência de que existe um mundo para além das ilusões, opta por dele não participar.
Palavras-chave: interdiscurso; Mito da Caverna; A invenção de Morel, análise do discurso.
Abstract: His article discusses the interdiscursive relationship between Morel’s invention, originally published in 1940, written by argentine author Adolfo Bioy Casares and the philosophical discourse present in Plato’s Myth of the Cave, published in the fourth century BC, in order to show how the subject and, consequently, his discourse can be historically reconfigured at this interface between Myth, Philosophy and Literature. The discussion is carried out through the interpretative and analytical look of some fragments taken from The Invention of Morel, bringing them closer to discourses present in the Cave Myth. The fragments refer to the two main characters: the Fugitive, the one who finds himself a prisoner of the spectres that populate the island to which he fled and from whom he seeks to free himself; and Morel, the one who uses his knowledge to create and manipulate the puppets that produce the shadows, and imprison those who are on a plane different from his own. The aim of the study is to find discursive correspondences in relation to the constitution of the subjects that Plato presents as inhabitants of his cave. In this intention, we used, as main theoretical support, Maingueneau’s studies (1997, 2006, 2008), especially in the conceptualization about the category of interdiscourse. Morel’s Invention confirms that every discourse enables, as Maingueneau points out, an incessant reconfiguration, in the incorporation of other discourses, appropriate dwellers of different socio-historical-cultural realities. Casares then uses the same discursive basis as Plato to show the man trapped again in a cave, but this time, by acquiring the awareness that there is a world beyond illusions, chooses not to participate in it.
Keywords: interdiscourse; Myth of the Cave; Morel’s invention, discourse analysis.


Palavras-chave


interdiscurso; Mito da Caverna; A invenção de Morel, análise do discurso; interdiscourse; Myth of the Cave; Morel’s invention, discourse analysis

Texto completo:

PDF

Referências


CÂMARA, S. O recurso do mito na literatura latino-americana. Tempos Históricos, [s. l.], v. 17, n. 1, p. 185-203, 2013.

CASARES, Adolfo Bioy. A invenção de Morel. Trad. Sérgio Molina. 4. ed. São Paulo: Biblioteca Azul, 2016.

CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de análise do discurso. Trad. Fabiana Komesu. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2016.

MAINGUENEAU, Dominique. Discurso literário. São Paulo: Contexto, 2006.

MAINGUENEAU, Dominique. Gênese dos discursos. Trad. de Sírio Possenti. São Paulo: Parábola, 2008.

MAINGUENEAU, Dominique. Novas tendências em análise do discurso. 3. ed. Campinas: Pontes: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1997.

MONGELLI, Lênia Márcia. O Mito da Caverna em Branquinho da Fonseca. Fragmentos: Revista de Língua e Literatura Estrangeira, Florianópolis, v. 4, n. 2, p. 41-50, 1994.

PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. 15. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2017.

SANTOS, Ivanaldo Oliveira; SOUZA, Gerizilda Dantas. Análise do homem em uma caverna tecnológica. Revista Saridh: Linguagem e Discurso, v. 1, n. 1, 30 maio 2019.

VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos: estudos de psicologia histórica. Trad. Haiganuch Sarian. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2238-3824.26.3.25-38

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2021 Gerizilda Dantas de Souza, Carlos Martins Versiani dos Anjos

Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.