A perseguição aos judeus e as maneiras de contá-la: «Memórias duma nota de banco»

Antony Cardoso Bezerra

Resumo


Resumo: Num percurso seminal de cunho especulativo, investigam-se derivações dos procedimentos narrativos empregados pelo romancista português Joaquim Paço d’Arcos em Memórias duma nota de banco (1962), particularmente, no que diz respeito ao cap. 3, em que se apresenta o episódio envolvendo a personagem Madame Koehler, judia idosa convertida em vítima do Holocausto. Notadamente à luz de fontes críticas sobre a obra (A. Quadros, O. Mendes, O. Grossegesse e A. A. Dória) e das considerações de H. White sobre representação no discurso histórico, comentam-se passagens do romance. Tendo-se em conta o estudo de W. Kayser sobre o grotesco, percebe-se que a nota de banco humanizada, responsável pela narração do romance, acaba por conferir à narrativa um tom que não evidencia a comiseração de que as personagens humanas pudessem ser alvo.
Palavras-chave: Joaquim Paço d’Arcos; Memórias duma nota de banco; narração; Holocausto.

 

Abstract: This paper investigates, in a preliminary and speculative way, the outcome of the narrative procedures employed by Portuguese novelist Joaquim Paço d’Arcos in Memórias duma nota de banco (1962). Special attention is given to chap. 3, in which is presented an episode involving Madame Koehler, the character of an old Jew victimized by the Holocaust. Fragments of the novel are discussed from critical studies on the novel (A. Quadros, O. Mendes, O. Grossegesse e A. A. Dória) and the observations of H. White about representation in historical discourse. Having in mind the investigation of W. Kayser on the grotesque, one can perceive that the humanized bill – which is also the narrator of the novel – grants a narrative tone which does not highlight the possible sympathy for the human characters.
Keywords: Joaquim Paço d’Arcos; Memórias duma nota de banco; narration; Holocaust.


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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2238-3824.18.1.49-74

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