“Não quero a glória que vem fria, quero agora”: a negação da posteridade em Hilda Hilst / “I Don’t Want the Cold Glory; I Want It Now”: The Denial of Posterity in Hilda Hilst

Victor André Pinheiro Cantuário

Resumo


Resumo: O artigo discute a opinião de Hilda Hilst sobre leitor, obra e posteridade recorrendo às entrevistas concedidas pela autora ao longo de sua trajetória literária e reunidas por Diniz (2013), bem como à biografia escrita por Folgueira e Destri (2018). Tendo frequentemente se queixado de não possuir leitores, de sua obra ser inédita ao público, de ser mal distribuída por seus editores e acusada de hermética, Hilda Hilst não interrompeu sua produção que se estendeu desde a publicação do primeiro livro, em 1950, até apresentar sua despedida do sagrado ofício da escrita com o último de textos inéditos, em 1997. De posse das informações disponibilizadas tanto nas entrevistas quanto na biografia mencionadas, torna-se evidente o entendimento de que havia uma preocupação por parte da poeta paulista, ainda que se tenha negado sucessivamente a “descobrir” quem era o seu leitor, de que sua obra fosse conhecida, reconhecida, objeto de estudo e se mantivesse em cena mesmo após a sua morte, fatos para os quais a compra de parte de seus arquivos pelo Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio, da UNICAMP, o projeto da editora Globo de publicar a obra completa e a organização do Instituto Hilda Hilst contribuíram significativamente, além de ter sido homenageada na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), em 2018, reascendendo-se, mais uma vez, o interesse pela autora e sua obra. E disto se concluir que, mesmo fria, a glória póstuma se estende sobre sua obra, pois não foi necessário que meio século transcorresse, é no hoje da posteridade negada que os louros são colhidos em memória a essa estrangeira na própria terra.

Palavras-chave: Hilda Hilst; Obra; Posteridade; Literatura Brasileira Contemporânea.

Abstract: The paper presents Hilda Hilst’s opinion about the reader, her work and posterity through interviews she gave, collected by Diniz (2013), as well as her biography written by Folgueira and Destri (2018). Even Hilst often complained of her few readers, that her work was barely known by the public, not well distributed to sell by the publishers, and also called hermetic, she never stopped of writing for these reasons, since her first book, from 1950, until her last one, in the late 1990s. Considering all this information, it becomes clear the understanding that the paulista writer was really concerned, even though she denied several times, in discovering who was her reader, that her work was known, acknowledged, studied and could be there after her death, and the buying of her personal papers by the Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio (UNICAMP), the Globo publisher’s project of reprinting her complete work, and the beginning of the activities of the Instituto Hilda Hilst immensely contributed, besides Hilda Hilst had been honored in the 16th Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), in 2018, risen again interesting by the writer and her work. From this, it is possible to conclude that even cold, the posthumous glory is spreading its wings above Hilda Hilst’s work, and won’t be necessary that half of a century goes by, it is right now that the denied posterity is resting on her laurels in honor to the memory of that stranger in her own country.

Keywords: Hilda Hilst; Literary Work; Posterity; Contemporary Brazilian Literature.


Palavras-chave


Hilda Hilst; Obra; Posteridade; Literatura Brasileira Contemporânea; Hilda Hilst; Literary Work; Posterity; Contemporary Brazilian Literature.

Texto completo:

PDF

Referências


ABREU, Caio Fernando. Deus pode ser um flamejante sorvete de cereja, 1987. In: DINIZ, Cristiano (org.). Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013. p. 95-101.

AMORIM, Silvana Vieira da Silva; AMORIM, Orlando Nunes de. Carlos Maria de Araújo: “Eu sou poeta por acaso”. Revista de Letras, São Paulo, v. 39, p. 147-165, 1999. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/27666717. Acesso em: 30 set. 2020.

ARAÚJO, Inácio. “Hilda Hilst Pede Contato” se enfraquece quando se torna solene. Folha de S. Paulo, 25 jul. 2018. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/07/hilda-hilst-pede-contato-se-enfraquece-quando-se-torna-solene.shtml. Acesso em: 18 set. 2020.

CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA. Hilda Hilst, São Paulo, Instituto Moreira Salles, n. 8. 1999.

COELHO, Nelly Novaes. Um diálogo com Hilda Hilst, 1989. In: DINIZ, Cristiano (org.). Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013. p. 111-137.

COLI, Jorge. Discrição e finura. In: HILST, Hilda. Pornô chic. São Paulo: Globo, 2014. p. 270-273.

DINIZ, Cristiano. Fortuna crítica de Hilda Hilst: levantamento bibliográfico atualizado (1949-2018). Campinas: UNICAMP/IEL/Setor de Publicações; UNICAMP/IEL/CEDAE, 2018.

FELINTO, Marilene. Hilda Hilst, 69, para de escrever: “está tudo lá”, 1999. In: DINIZ, Cristiano (org.). Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013. p. 183-187.

FOLGUEIRA, Laura; DESTRI, Luisa. Eu e não outra: a vida intensa de Hilda Hilst. São Paulo: Tordesilhas, 2018.

GONÇALVES, Delmiro. O sofrido caminho da criação artística, segundo Hilda Hilst, 1975. In: DINIZ, Cristiano (org.). Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013. p. 29-35.

GOUVEA, Leila. Entrevista – Hilda Hilst, 2003. In: DINIZ, Cristiano (org.). Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013. p. 231-237.

HELENA, Regina. Hilda Hilst: suas peças vão acontecer, 1969. In: DINIZ, Cristiano (org.). Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013. p. 25-27.

HERTZ, Pedro. “Entrevista Ana Lima Cecílio”. Sala de Visita, Livraria Cultural, 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5W5yqxijdng. Acesso em: 18 set. 2020.

HILDA HILST recebe o Prêmio Moinho Santista. Folha de S. Paulo, 26 set. 2002. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2609200228.htm. Acesso em: 30 set. 2020.

HILDA Hilst é enterrada em Campinas. Folha de S. Paulo, 5 fev. 2004. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0502200412.htm. Acesso em: 30 set. 2020.

HILST, Hilda. Teatro completo. São Paulo: Globo, 2008.

NETO, Juvenal et al. Hilda Hilst: fragmentos de uma entrevista, 1981. In: DINIZ, Cristiano (org.). Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013. p. 69-83.

PÉCORA, Alcir. Nota do organizador. In: ______ (org.). Por que ler Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2010. p. 7-29.

PISA, Clelia; PETORELLI, Maryvonne Lapouge. Em brasileiras: vozes, escritos do Brasil, 1977. In: DINIZ, Cristiano (org.). Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013. p. 37-45.

RIBEIRO, Léo Gilson. Tu não te moves de ti, uma narrativa tripla de Hilda Hilst, 1980. In: DINIZ, Cristiano (org.). Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013. p. 55-67.

RIMI, Hussein. Palavras abaixo da cintura, 1991. In: DINIZ, Cristiano (org.). Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013. p. 139-145.

SALOMÃO, Marici. Amavisse, o último livro sério da autora Hilda Hilst, 1989. In: DINIZ, Cristiano (org.). Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013. p. 103-109.

SILVEIRA, Alcântara. Palestra com Hilda Hilst, 1952. In: DINIZ, Cristiano (org.). Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013. p. 21-23.

VÁRIOS AUTORES. Das sombras – entrevista, 1999. In: DINIZ, Cristiano (org.). Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013. p. 189-215.

WEINTRAUB, Fabio et al. Os dentes da loucura, 2001. In: DINIZ, Cristiano (org.). Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013. p. 217-229.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2359-0076.40.64.57-71

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2021 Victor André Pinheiro Cantuário

Revista do Centro de Estudos Portugueses
ISSN 1676-515X (impressa) / ISSN 2359-0076 (eletrônica)

Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional

.