A Literatura e as artes, hoje: o texto abjeto, a arte da dor e da violência

Solange Ribeiro de Oliveira

Resumo


A especial situação da Galiza na Península Ibérica é, talvez, a de maior  complexidade das geradas nos conflitos identitários que encerra o Reino  de Espanha. Dentre os índices susceptíveis de devirem definidores de  uma “identidade galega”, é a língua o que tem adquirido a posição  hegemónica, ao tempo que se configurava como o território privilegiado da confrontação de diferentes projetos de construção nacional. A combinação  deste fator constituinte com outros de cariz económico e político tem  feito possível a categorização da Galiza como uma colónia endógena  na Europa Ocidental. Como um enclave em desigual relação dialética:  enclave colonial espanhol em território (material e simbólico) lusófono.  Enclave lusófono sobrevivendo em território (administrativo) espanhol.  Esta caraterização é dependente do privilégio concedido nas categorias  políticas da Modernidade ao Estado-Nação. Desta perspetiva, a Galiza  seria quer o “segmento amputado/ocupado” de uma nação, quer uma  nação “proibida” (“sem Estado nacional próprio”). Porém, na era do Império,  a condição “suspensa” da identidade galega é susceptível de se tornar  num dos aporéticos paradigmas próprios ao sujeito do início do novo  século: os galegos podem e não podem ser outra coisa. Esta incompletude  sua é, assim, não apenas a condição mesma da sua estrangeirice em  relação aos dois Estados-Nação da Península Ibérica, mas também, e  nomeadamente, ao artefato moderno que o Estado-Nação é.

The special situation of Galiza in the Iberian Peninsula is, perhaps, the  most complex identitarian conflict of those locked up by the Spanish  Kingdom. Amongst all the potential indicators of a “Galizan identity”,  language has acquired a hegemonic position at the same time that it has  become the privileged territory for the confrontation of different nationbuilding  projects. The combination of this constituent factor with others  of economic and political nature made possible to categorize Galiza as an  internal colony in Western Europe. As an enclave in an unequal dialectical  relationship: a Spanish colonial enclave in (material and symbolic) Lusophone  territory. A Lusophone enclave surviving in (administratively) Spanish territory.  This characterization depends upon the privilege given to the Nation-State  above all political categories of Modernity. From this perspective, Galiza  would be either a nation’s “amputated/occupied segment” or a “forbidden”  nation (without “its own Nation-State”). However, in Empire, the  “suspended” condition of Galizan identity may become one of the aporetic  paradigms of subjectivity at the beginning of the new century: Galizans can  and cannot be (an)other thing. Their incompleteness is, thus, not only the  very condition of their foreignness to the two Nation-States of the Iberian  Peninsula but, above all, to the modern artifact that the Nation-State is.


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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2359-0076.26.36.143-157

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Direitos autorais 2006 Solange Ribeiro de Oliveira

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