O duplo como paródia em O Ano do Dilúvio

Melissa Cristina Silva de Sá

Resumo


O Ano do Dilúvio, da canadense Margaret Atwood, apresenta uma distopia em que a humanidade foi dizimada por uma praga sem nome e à qual poucos sobreviveram. Dentre eles estão remanescentes do grupo religioso Jardineiros de Deus, cujo líder, Adam One, já tinha previsto que um “Dilúvio Seco” atingiria a humanidade. Pelos os sermões de Adam One antes e depois da catástrofe, assim como pela narrativa de outros personagens, o leitor é levado a um duplo mundo distópico: aquele do capitalismo exacerbado antes da catástrofe final e aquele com a humanidade quase dizimada. Meu foco neste trabalho é analisar como a narrativa de Adam One se constitui como paródia dos sermões cristãos. Conceituando paródia a partir de Linda Hutcheon, que vê em toda paródia a presença de um discurso duplo, pretendo discutir como a quebra de expectativa em relação ao sermão gera um paradoxo metaficcional. Através desse paradoxo, o texto chama atenção sobre sua própria condição como texto, criando um efeito estético que rompe com a narrativa tradicional ao mesmo tempo em que a endossa. Esse efeito de duplo textual, presente em outras obras da autora, em O Ano do Dilúvio é utilizado para questionar a suposta naturalidade dos discursos da religião e da ciência, enfatizando-se o modo como nossa realidade, assim como a ficção, é construída.


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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/1982-0739.23.1.275-285

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Em Tese
ISSN 1415-594X (impressa) / ISSN 1982-0739 (eletrônica)


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