O anjo da História tem corpo de mulher
Resumo
Guiada pela inteligibilidade de um corpo-memória que recupera o passado revelando sua latência no presente, em Jamais o fogo nunca (2007) Diamela Eltit propõe, de forma literariamente política, uma releitura histórica da ditatura militar chilena de um modo, fundamentalmente, feminino. Neste romance, uma mulher sem nome rememora episódios passados ao mesmo tempo em que examina a banalidade do presente que compartilha com seu companheiro, a imagem degradada de uma liderança militante autoritária. Por meio desse corpo-ruína, que interpela o desaparecimento de um projeto político, revelando suas contradições internas, Jamais o fogo nunca expõe a relação dialética que une passado e presente para retirar do silenciamento a hierarquia de gênero que estruturou tanto o moralismo do Estado quanto as organizações militantes. Ao aproximar-se da ditadura militar por meio do escrutínio da masculina militância, o romance questiona a falocêntrica racionalidade e elabora um tipo de aproximação ao passado que, como colocou Walter Benjamin nas teses que compõem seu “Sobre o conceito de História” (1940), alia rememoração e redenção. Neste artigo, interessa-nos investigar em que medida esse gesto – que coloca em xeque os lugares hegemônicos do saber – possibilita ao romance de Eltit postar-se como uma instância dissensual de pensamento.
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PDFDOI: http://dx.doi.org/10.17851/1982-0739.26.3.262-279
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Em Tese
ISSN 1415-594X (impressa) / ISSN 1982-0739 (eletrônica)
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