Autobiografias literárias na poesia de exílio: a recepção de Ovídio em Camões

Júlia Batista Castilho de Avellar

Resumo


Os Tristia (“Tristezas”), de Ovídio, são considerados a obra fundadora da lírica de exílio na tradição ocidental. Nessa coletânea de elegias, Ovídio realiza sua última metamorfose e assume uma persona de exilado, que lamenta os sofrimentos em Tomos, cidade às margens do Mar Negro, nos limites do Império Romano. Este artigo investiga a (auto)representação do poeta como exilado, a permanência dessa imagem na tradição literária e sua importância para a poesia de exílio posterior. Será analisada a recriação empreendida por Camões na Elegia III, destacando-se os pontos de diálogo com a obra ovidiana e as inovações instauradas pelo poeta português. Camões adota uma persona ovidiana ao cantar seus males de ausência e efetua uma releitura da poesia dos Tristia. Assim, a presente abordagem centra-se na recepção do “mito” da vida e do exílio de Ovídio na poesia camoniana e, sobretudo, nas construções que circundam a figura do poeta exilado.


Palavras-chave


exílio; Ovídio; Camões; recepção dos clássicos; autobiografia.

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/1983-3636.14.1.87-109

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ISSN 2179-7064 (impressa) / ISSN 1983-3636 (eletrônica)

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