A (outra) gente: multiplicidade e interlocução no Grande sertão: veredas

Alexandre Andre Nodari

Resumo


Resumo: A crítica se debruçou exaustivamente sobre a duplicidade do Grande sertão: veredas, apontando a sua função estrutural seja para a forma, seja para o conteúdo do romance. Seguindo a esteira aberta por João Adolfo Hansen, pode-se dizer que tal duplicidade, antes de ser valor em si ou caminho para a unidade, constitui as veredas pela qual o sertão se abre à multiplicidade, e a encruzilhada se torna redemoinho. Para tanto, há que se atentar para o papel que a interlocução, enquanto alternância colaborativa entre fala e escuta, escrita e (re)leitura, desempenham tanto no dizer de Riobaldo (“as falas na fala”) quanto na sua concepção metafísica (“a vida é mutirão de todos”). Perscrutando a importância de Quelemém, interlocutor das estórias narradas, pode-se perceber como a história de Riobaldo se converte em estória, atravessando gêneros: através (e por meio) da interlocução, o protagonista tece a trama de sua vida do compósito das outras vidas reais e imaginárias, havidas ou ouvidas (veredas), que formam a sua, dando corpo aos seus muitos fios e chegando a um estado subjetivo – perdido com a morte de Diadorim – que agora se apresenta múltiplo, por meio do seu agenciamento enunciativo, através de um(a) a-gente poético(a).

Palavras-chave: Grande sertão: veredas; multiplicidade; interlocução.

Abstract: The critical fortune of Grande Sertão: Veredas has investigated in all details the role that duplicity plays in the novel, regarding both the structure and the content. Following the path opened by João Adolfo Hansen, we can say that such duplicity, instead of being a value in itself or a way leading to unity, constitutes the veredas through which the sertão opens itself to multiplicity, and the crossroad becomes a swirl. In order to do so, one has to pay attention to the role interlocution – understood here as the collaborative alternation between speech and listening, writing and (re)reading – in Riobaldo’s discourse (“the speeches inside the speech”) and in his metaphysical conception (“life is a mutirão [communal work]”). Examining the importance of Quelemém, the interlocutor to Riobaldo’s storytelling, one can realize how Riobaldo’s history turns into his story, crossing genres/genders: through interlocution, the protagonist co-weaves the woof of his life by forming a poetical assemblage of the other lives, real and imaginary, that constitute his own. That way, he reaches a multiple subjective state, previously lost with Diadorim’s death.

Keywords: Grande sertão: veredas; multiplicity; interlocution.


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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.27.3.29-61

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