Narrativas de vários sertões

Marília Rothier Cardoso

Resumo


Resumo: O objetivo deste artigo é estudar as narrativas de Guimarães Rosa como construção de uma linguagem poética que abre novas perspectivas ao pensamento, distanciando-se dos parâmetros da racionalidade ocidental. Como estratégia analítica, desenvolve-se um paralelo entre a estória rosiana do menino Miguilim e o relato autobiográfico do africanista Amadou Hampâté Bâ, com atenção para os capítulos referentes a seus tempos de criança. Nas duas narrativas, observa-se a conjugação de aspectos sobreviventes de culturas orais arcaicas com a peculiaridade do ponto de vista infantil para o delineamento de modos alternativos de conhecer o mundo. Destaca-se a proximidade entre tais modos de conhecimento e a cunhagem peculiar de conceitos empregados por antropólogos e filósofos contemporâneos que se desviam da epistemologia hegemônica. Para ampliar o campo de debate, consideram-se, ainda, brevemente, os diários e memórias de Carolina Maria de Jesus, escritora descendente de africanos, semialfabetizada mas prolífica e potente. Nesse percurso, procura-se destacar a dimensão investigativo-crítica da forma narrativa.

Palavras-chave: narrativa; modos de existência; perspectivas de conhecimento; linguagem verbal; marcas não verbais de enunciação.

Abstract: We aim to study Guimarães Rosa’s narratives as a construction of a poetic language that opens new perspectives to thinking, placing itself away from the parameters of Western rationality. As an analytical strategy, a parallel is traced between the boy Miguilim Rosian story and the Africanist Amadou Hampâté Bâ autobiographical account, with attention to the chapters that refer to his childhood. In both narratives, it is possible to observe the combination of archaic oral cultures surviving aspects with the infantile point of view peculiarity o for the designing of alternative ways of knowing the world. We emphasize the proximity between such ways of knowledge and the peculiar concepts coinage employed by contemporary anthropologists and philosophers that deviate from hegemonic epistemology. To broaden the field of debate, we also consider briefly the diaries and memoirs of Carolina Maria de Jesus, an African-descendant writer, semi-literate but prolific and powerful. Consequently, the research-critical dimension of the narrative form is highlighted.

Keywords: narrative; modes of existence; knowledge perspectives; verbal language; non-verbal marks of enunciation.


Palavras-chave


narrativa; modos de existência; perspectivas de conhecimento; linguagem verbal; marcas não verbais de enunciação; narrative; modes of existence; knowledge perspectives; verbal language; non-verbal marks of enunciation.

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.28.1.307-328

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