Memórias do Cárcere: em busca da aguardente perdida / Memórias do Cárcere: In Search of the Lost Cachaça

Maurício Ayer

Resumo


Resumo: A aguardente tem um papel singular na narrativa de Memórias do Cárcere, livro em que Graciliano Ramos relata a sua experiência como preso político entre 1936 e 1937. A partir de uma leitura a contrapelo das passagens em que a bebida aparece, procurou-se analisar o lugar que ela ocupa na poética da obra, reconhecendo-a como diretamente associada à ativação da memória e da imaginação e como portadora de um certo “princípio de liberdade” que o autor paradoxalmente desejava enxergar na prisão. Neste contexto, os tensionamentos e distensões propiciados pela aguardente inserem-se em um processo permanente de ajustes éticos do narrador-personagem e dos modos de linguagem por meio dos quais o próprio eu se constitui. As análises foram realizadas recorrendo-se a autores como Baudelaire, Benjamin, Candido e Pessoa.

Palavras-chave: memória e testemunho; cachaça na literatura; memória e imaginação.

Abstract: The cachaça (a Brazilian distilled beverage made from sugar-cane) has a unique role in the narrative of Memórias do Cárcere, a book in which Graciliano Ramos reports his experience as a political prisoner from 1936 to 1937. From a counter-reading of the passages in which the beverage appears, an attempt was made to analyze the place that it occupies in the poetics of the work, recognizing it as directly associated to the activation of memory and imagination and as the carrier of a certain “freedom principle” that the author paradoxically wanted to find in prison. In this context, the tensions and distensions produced by the cachaça are part of an unending process of ethical adjustments of the narrator-character and of the modes of language through which the “I” is constituted. The analyses were performed in dialogue with authors such as Baudelaire, Benjamin, Candido and Pessoa.

Keywords: memory and testimony; cachaça in literature; memory and imagination.


Palavras-chave


memória e testemunho; cachaça na literatura; memória e imaginação; memory and testimony; cachaça in literature; memory and imagination.

Texto completo:

PDF

Referências


BASTOS, Hermenegildo. Memórias do Cárcere: literatura e testemunho. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998.

BAUDELAIRE, Charles. Les Paradis artificiels. Paris: Garnier-Flammarion, 1966.

BENJAMIN, Walter. A imagem de Proust. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 2012. v. 1, p. 37-50. (Obras Escolhidas).

BENJAMIN, Walter. Haxixe. Tradução de Flávio de Menezes e Carlos Nelson Coutinho. São Paulo: Brasiliense, 1972.

BOSI, Alfredo. A escrita do testemunho em Memórias do Cárcere. In: BOSI, Alfredo. Literatura e Resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 221-237.

CANDIDO, Antonio. Ficção e Confissão: Ensaios sobre Graciliano Ramos. 3. ed. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2006.

MORAES, Dênis de. O velho Graça: uma biografia de Graciliano Ramos. São Paulo: Boitempo, 2012.

PESSOA, Fernando. “Chuva Oblíqua”. In: O Guardador de Rebanhos e outros poemas. Seleção e introdução de Massaud Moisés. São Paulo: Cultrix, 1991. p. 50-54.

RAMOS, Graciliano. Memórias do Cárcere. São Paulo: Círculo do Livro, [19--]. v. 1; 2.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.28.2.163-190

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2019 Maurício Ayer, Maurício O Ayer

Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira
ISSN 0102-4809 (impressa) / ISSN  2358-9787 (eletrônica)

License

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.