O livro brasileiro nos anos 1920: aspectos gráficos e atuação dos escritores / The Brazilian Book in the 1920’s: Graphic Aspects and Writers’ Performance

Milena Ribeiro Martins

Resumo


Resumo: Este artigo analisa textos e paratextos da literatura brasileira da década de 1920 a fim de caracterizá-la como um momento de transformações determinantes para a história do livro brasileiro. Observa-se no período um processo de nacionalização da produção livreira, em consonância com uma progressiva nacionalização da linguagem e dos temas. Com o crescimento significativo do número de editores brasileiros atuando na publicação de literatura, tornaram-se mais estreitos os vínculos entre diferentes agentes do processo de produção, venda e recepção de livros, propiciando, como consequência, formas novas de profissionalização dos intelectuais. Casos como o dos escritores-editores Benjamin Costallat e Monteiro Lobato são apresentados e analisados, de forma a tornar mais compreensíveis algumas das ações colocadas em prática por eles. Para que tal análise seja possível, é necessário atentar para elementos paratextuais (prefácios, epígrafes, capas) presentes em edições antigas dos livros estudados, além de documentos pessoais. Dentre os livros mencionados, estão Urupês (1918), de Lobato; Histórias e sonhos (1920), de Lima Barreto; Fim (1921), de Medeiros e Albuquerque; Mademoiselle Cinema (1923), de Costallat; e Amar, Verbo intransitivo (1927), de Mário de Andrade. A atividade editorial é aqui compreendida como uma ação essencialmente plural, que envolve diversos agentes, dentre os quais os próprios escritores, que estão incluídos entre os responsáveis não apenas pelo texto, mas também por aspectos da materialidade dos livros. O sistema literário brasileiro conquistava sua independência e maturidade, ao passo que, por meio de dispositivos textuais e editoriais, formava-se um novo tipo de leitor.

Palavras-chave: história do livro; modernismo; editores.

Abstract: This article analyzes texts and paratexts of the Brazilian literature of the 1920s, in order to characterize it as a moment of decisive transformations in the history of the Brazilian book. In the period, one observes a process of nationalization of book production, in line with a progressive nationalization of language and themes. With the significant increase in the number of Brazilian publishers working in the publication of literature, the links between different agents of the process of production, sale and reception of books have become closer, consequently providing new forms of professionalization of intellectuals. Cases such as the ones of Benjamin Costallat and Monteiro Lobato are presented and analyzed in order to make more understandable their actions as writers-publishers. For such an analysis to be possible, it is necessary to pay attention to paratextual elements (prefaces, epigraphs, covers) present in old editions of the studied books, as well as personal documents. Among the books mentioned are Urupês (1918), by Lobato; Histórias e Sonhos (1920), by Lima Barreto; Fim (1921), by Medeiros and Albuquerque; Mademoiselle Cinema (1923), by Benjamin Costallat; and Amar verbo intransitivo (1927), by Mário de Andrade. Publishing activity is understood as an essentially plural action, involving several agents responsible not only for texts, but also for aspects of the materiality of the books. The Brazilian literary system gained its independence and maturity, whereas, through textual and editorial devices, a new type of reader was formed.

Keywords: book history; modernism; publishers.


Palavras-chave


história do livro; modernismo; editores; book history; modernism; publishers.

Texto completo:

PDF

Referências


ANDRADE, M. Amar, verbo intransitivo. Idílio. São Paulo: Casa Editora Antonio Tisi, 1927.

ATHAYDE, T. A literatura em 1920. Revista do Brasil, São Paulo, n. 66, p. 248-253, jun. 1921.

AZEVEDO, C. L.; CAMARGOS, M. M. R.; SACCHETTA, W. Monteiro Lobato: Furacão na Botocúndia. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 1997.

BARRETO, L. Histórias e sonhos: Contos. Rio de Janeiro: Gianlorenzo Schettino, 1920.

BIGNOTTO, C. C. Figuras de autor, figuras de editor: As práticas editoriais de Monteiro Lobato. São Paulo: Unesp, 2018.

BIGNOTTO, C. C.; MARTINS, M. R. The Brazilian publishing industry at the beginning of the twentieth century: the path of Monteiro Lobato. In: VASCONCELOS, S. G.; SILVA, A. C. S. (ed.). Books and periodicals in Brazil 1768-1930: a transatlantic perspective. Oxford: Legenda, 2014. p. 246-261.

CHARTIER, R. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Tradução de Mary Del Priori. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999.

CHARTIER, R. Do livro à leitura. In: CHARTIER, R. (org.). Práticas da Leitura. Tradução de Cristiane Nascimento. São Paulo: Estação Liberdade, 1996. p. 77-104.

COSTALLAT, B. Mademoiselle Cinema: novella de costumes do momento que passa. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 1999.

DARNTON, R. O que é a história dos livros? In: DARNTON, R. O beijo de Lamourette. Tradução de Denise Bottman. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

FRANÇA, P. S. Livros para leitores: a atuação literária e editorial de Benjamim Costallat no Rio de Janeiro dos anos 1920. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2011. Disponível em: https://www.bn.gov.br/es/node/995. Acesso em: 30 jul. 2019.

GENETTE, G. Paratextos editoriais. Tradução de Álvaro Faleiros. Cotia: Ateliê Editorial, 2009.

HALLEWELL, L. O livro no Brasil: Sua história. Tradução de Maria da Penha Villalobos e Lólio Lourenço de Oliveira. São Paulo: T. A. Queiroz: Editora da Universidade de São Paulo, 1985.

LAJOLO, M. Monteiro Lobato: um brasileiro sob medida. São Paulo: Moderna, 2000.

LAJOLO, M. O regionalismo lobatiano na contramão do modernismo. Remate de Males, Campinas, n. 7, p. 39-48, 1987.

LINOTIPOS. Imprensa Nacional. [S. l.: s. n., 201-?]. Disponível em: http://www.in.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/museu-da-imprensa/acervo/-/asset_publisher/t9VtcTqConVR/content/id/50039879/linotipos. Acesso em: 30 jul. 2019.

LOBATO, M. A barca de Gleyre. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1948. v. 2.

LOBATO, M. Urupês. 9. ed. São Paulo: Monteiro Lobato & C. Editores, 1923.

MARTINS, M. R. Lobato de olho na modernidade brasileira. In: SALES, G.; BUENO, L.; AUGUSTI, V. (org.). A tradição literária brasileira: entre a periferia e o centro. Chapecó: Argos, 2013. p. 157-182.

MARTINS, M. R. Lobato edita Lobato: história das edições dos contos lobatianos. 429 f. 2003. Tese (Doutorado em Letras na Área de Literatura Brasileira) – Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, 2003.

P. Revisão e revisores. Revista do Brasil, São Paulo, n. 45, p. 82-83, set. 1919.

SCHWARCZ, L. M. Lima Barreto – Triste visionário. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

SÜSSEKIND, F. 1987. Cinematógrafo de letras. Literatura, técnica e modernização no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

VAZ, L. Páginas vadias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1957.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.29.1.218-236

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2020 Milena Ribeiro Martins

Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira
ISSN 0102-4809 (impressa) / ISSN  2358-9787 (eletrônica)

License

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.