“Cuidado, leitor, ao voltar esta página!”, sobre prefácios, leitores e escritores no Romantismo brasileiro / “Beware, Reader, When You Turn this Page!”, About Prefaces, Readers and Writers in Brazilian Romanticism

Flávia Amparo, Monica Gomes da Silva

Resumo


Resumo: Este artigo objetiva identificar e refletir sobre as estratégias discursivas utilizadas nos prefácios de obras que participam da consolidação do sistema literário brasileiro no século XIX: Primeiros cantos, Lira dos vinte anos, A moreninha e Ressurreição. Busca-se estudar as imagens construídas acerca do Leitor, do Autor e da Obra nos textos introdutórios de Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Joaquim Manuel de Macedo e Machado de Assis. Parte-se da concepção de paratexto desenvolvida por Gérard Genette (2009) que destaca, especialmente, o aspecto intersticial do prefácio, além do cotejo com dois grandes modelos de prefácio para o Romantismo brasileiro: o Prólogo da Primeira Parte de O engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, e Prefácio ao Cromwell, de Victor Hugo. Ao reafirmar a condição de antessala da obra literária, o prefácio é entendido como um limiar entre realidade e ficção que, para além da função circunstancial e pragmática de apresentação do texto, possibilita a criação de uma verdadeira mise-en-scène discursiva. Nesse sentido, aprecia-se como os autores brasileiros, num contexto literário julgado incipiente, constroem os princípios de um “como e por que ler” indispensáveis à formação de um público-leitor.

Palavras-chave: paratexto; prefácio; Romantismo.

Abstract: This article seeks to identify and provoke reflections about the discursive strategies used in the prefaces of works that are part of the consolidation process of XIX century Brazilian literature: Primeiros cantos, Lira dos vinte anos, A moreninha and Ressurreição. The aim here is to study the images around the Reader, the Author and the Work within the forewords from Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Joaquim Manuel de Macedo and Machado de Assis. The article parts from the concept of paratext developed by Gérard Genette (2009), which highlights the interstitial aspect of the preface, besides the comparison between two great preface models for the Brazilian Romanticism: the Prologue from the First Part of The Ingenious Knight Dom Quixote de La Mancha, by Miguel de Cervantes, and Preface to Cromwell, by Victor Hugo. While reaffirming a prelude status in the literary work, the preface is understood as a threshold between reality and fiction and enables the creation of a true discursive mise-en-scène, apart from working as circumstantial and pragmatic tool to present the text. In this regard, the way that Brazilian authors weave the principles of a “way and a reason to read” in a literary context considered incipient is very much appreciated and indispensable for the formation of a readership.

Keywords: paratext; preface; Romanticism.


Palavras-chave


paratexto; prefácio; Romantismo; paratext; preface; Romanticism.

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.29.1.155-180

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