Clarice Lispector e a escrita de ninguém / Clarice Lispector and the Writing of Nobody

Alex Keine de Almeida Sebastião

Resumo


Resumo: Trata-se de abordar a questão da autoria, tópico já clássico em teoria da literatura, recorrendo-se, inicialmente, a algumas formulações de Roland Barthes, Michel Foucault e Maurice Blanchot. Todos eles contribuíram para desconstruir a noção de autor como aquele que detinha autoridade sobre a obra. Começando por perguntar “quem escreve?” e passando pela questão “que importa quem escreve?”, o artigo propõe o exame da afirmação “ninguém escreve”, considerando o ocaso do sujeito no processo da escrita. Neste percurso, aponta-se para a dupla valência do termo “ninguém”, em que as funções positiva e negativa podem se alternar, como ocorre, por exemplo, na Odisseia, de Homero. Ao final, recolhem-se algumas passagens da obra de Clarice Lispector que sugerem tratar-se ali de uma escrita de ninguém.

Palavras-chave: autoria; escrita de ninguém; Clarice Lispector.

Abstract: This work approaches the issue of authorship, an already classic topic in literature theory, by using some elaborations by Roland Barthes, Michel Foucault and Maurice Blanchot. All of them contributed to deconstruct the notion of author as the one who had authority over the work. Starting by asking “who writes?” and going through the question “what does it matter who writes?”, the article proposes to examine the statement “nobody writes”, considering the subject’s decline in the writing process. Along this path, the double valence of the term “nobody”, in which the positive and negative functions can alternate, as occurs, for instance, in Homer’s Odyssey. In the end, some passages from Clarice Lispector’s work are collected to suggest the presence of a writing of nobody.

Keywords: authorship; writing of nobody; Clarice Lispector.


Palavras-chave


autoria; escrita de ninguém; Clarice Lispector; authorship; writing of nobody; Clarice Lispector.

Texto completo:

PDF

Referências


AGAMBEN, G. O autor como gesto. In: ______. Profanações. Trad. Selvino Assman. São Paulo: Boitempo, 2007. p. 49-57.

BARTHES, R. A morte do autor. In: ______. O rumor da língua. Trad. Mário Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2012. p. 57-64.

BLANCHOT, M. O espaço literário. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.

FOUCAULT, M. O que é um autor? In: ______. Estética: literatura e pintura, música e cinema. Trad. Inês Autran Dourado Barbosa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006. p. 264-298.

HOMERO. Odisseia. Trad. Frederico Lourenço. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2016.

LACAN, J. Le non dupes errent. 13 novembre 1973. In: LE SÉMINAIRE XXI. Inédito. Disponível em: http://ecole-lacanienne.net/wp-content/uploads/2016/04/1973.11.13.pdf. Acesso em: 12 jun. 2020.

LISPECTOR, C. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1998a.

LISPECTOR, C. Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998b.

LISPECTOR, C. Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

LISPECTOR, C. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998c.

MALTA, A. A astúcia de ninguém: ser e não ser na Odisseia. Belo Horizonte: Impressões de Minas, 2018.

NINGUÉM. In: FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1986. p. 1194.

SANTIAGO, S. Singular e anônimo. O eixo e a roda, Belo Horizonte, v. 5, p. 95-105, 1986. DOI: https://doi.org/10.17851/2358-9787.5.0.95-105. Disponível em: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/4209/4055. Acesso em: 14 jun. 2020.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.30.1.189-205

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2021 Alex Keine de Almeida Sebastião

Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira
ISSN 0102-4809 (impressa) / ISSN  2358-9787 (eletrônica)

License

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.