Delírios e deleites: leitura dos diálogos de Machado de Assis com John Milton em Memórias póstumas de Brás Cubas / Deliriums and Delights: the reading of the dialogues of Machado de Assis with John Milton in Posthumous Memoirs of Bras Cubas

Miriam Piedade Mansur Andrade

Resumo


Resumo: Os textos de Machado de Assis e principalmente seus romances estabelecem muitos diálogos com diferentes escritores e tradições. Entretanto, a forma que Machado de Assis escolheu para se referir ao poeta inglês do século XVII, John Milton, no seu romance, Memórias póstumas de Brás Cubas, merece uma atenção cuidadosa. Nesse romance, o autor brasileiro também se refere a Milton, mas não de maneira direta ou nomeada; ao contrário, as alusões a Milton são indiretas, criando uma composição textual com o poeta inglês e o convidando, de maneira ausente, a também fazer parte da narrativa. Machado de Assis, na elaboração dos delírios e deleites de Brás Cubas, reflete sobre seu ato de composição e estabelece diálogos também com o poeta inglês, como uma tentativa de proliferar sentidos da obra de Milton, mais especificamente Paradise Lost, no contexto literário brasileiro. Esses diálogos serão analisados com base na ideia de dialogismo de Mikhail Bakhtin (1973, p. 39) que é constitutivo da intertextualidade e desvia o foco das noções de autoria, causalidade e finalidade, e o “texto passa a ser visto como uma absorção de e uma resposta a um outro texto”. Assim, é pertinente dizer que Machado de Assis absorve elementos de composição do universo miltoniano e responde a eles nas Memórias póstumas de Brás Cubas, revivendo, em sua criação literária, suas experiências como leitor desse poeta inglês.

Palavras-chave: Machado de Assis; Brás Cubas; dialogue; Milton.

Abstract: The texts of Machado de Assis and mainly his novels established many dialogues with different writers and traditions. However, the way Machado de Assis chose to refer to the English poet of the seventeenth century, John Milton, on his Posthumous Memoirs of Brás Cubas, demands a careful observation. In this novel, the Brazilian writer refers to Milton but not in a direct manner; on the contrary, the allusions to Milton are indirect, creating a textual composition within the English poet and inviting him, in an absent way, to be also part of the narrative. It seems that Machado de Assis, in the elaboration of Brás Cubas’s deliriums and delights, reflects upon his act of composition and establishes a textual dialogue with the English poet, as an attempt to proliferate the meanings of Milton’s oeuvre, more specifically Paradise Lost, in the Brazilian literary context. These dialogues will be analyzed based on Mikhail Bakhtin’s studies on the idea of dialogism, which is a constituent of the concept of intertextuality and deviates the focus on the notions of authorship, causality and finality, with writing working “as a reading of the anterior literary corpus and the text as an absorption of and reply to another text” (1973, p. 39). Thus, it is possible to say that Machado de Assis absorbs some elements of composition from Milton’s creative universe and answers him on his Posthumous Memoirs of Brás Cubas, reviving them in his literary creation and in his experiences as a reader of the English poet.

Keywords: Machado de Assis; Brás Cubas; dialogue; Milton.


Palavras-chave


Machado de Assis; Brás Cubas; dialogue; Milton; dialogue.

Texto completo:

PDF

Referências


ANDRADE, Miriam Piedade Mansur. Machado de Assis e John Milton: diálogos pertinentes. 169 f. 2013. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2013.

ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1986. 3 v. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2002.

BAKHTIN, M. Problems of Dostoevsky’s Poetics. Tradução por R. W. Rotsel. Ann Arbor: Ardis, 1973.

BRANDÃO, R.; OLIVEIRA, J.. Machado de Assis leitor: uma viagem à roda de livros. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

COUTINHO, A. Machado de Assis na literatura brasileira. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1966.

COUTINHO, A. A filosofia de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Casa Editora Vecchi, 1940.

FERRY, A. Milton’s epic voice: the narrator in Paradise Lost. Chicago: The University of Chicago Press, 1983, p. 8.

GOMES, E. Influências inglesas em Machado de Assis. 2. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 1976.

KRISTEVA, J. Introdução à semanálise. Tradução por Lúcia H. F. Ferraz. São Paulo: Perspectiva, 1974.

LEWALSKI, B. The life of John Milton: A Critical Biography. Williston, VT: Blackwell Publishers, 2001.

MACHADO, U. (Org). Machado de Assis: roteiro da consagração. Rio de Janeiro: UERJ, 2003.

MASSA, J. A biblioteca de Machado de Assis. Tradução por Claudia Maria de Almeida. In: JOBIM, J. A biblioteca de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras: Topbooks, 2001, p. 25-97.

MASSA, J. La Bibliothèque de Machado de Assis. In: Revista do Livro, v.1 n. 21-22, p. 195-238, mar./jun. 1961.

MEYER, A. Machado de Assis. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1952.

MILTON, J. John Milton: the major works. Edição deS. Orgel e J. Goldberg. Oxford: Oxford University Press, 1991.

MIRANDA, W.; SOUZA, E.. Perspectivas da literatura comparada no Brasil. In: CARVALHAL, Tânia Franco (Org.) Literatura comparada no mundo: questões de método. Porto Alegre, L&PM, 1997, p. 39-52.

PARKER, W. Milton: A Biography. 2 vols. 2nd ed. rev. Gordon Campbell, Ed. Oxford: Clarendon Press, 1996.

ROMERO, S. História da literatura brasileira. 5 ed. Organizada e prefaciada por Nelson Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954, v. 5, p. 1617-1638.

SÁ, Luiz Fernando Ferreira; MANSUR, Miriam Piedade. Influência em “destinerrance”: Machado de Assis leitor de John Milton. O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira, [S.l.], v. 16, p. 15-30, jun. 2008. ISSN 2358- 9787. Disponível em: . Acesso em: 10 jan 2021. doi:http://dx.doi. org/10.17851/2358-9787.16.0.15-30. SENNA, M. O olhar obliquo do Bruxo: ensaios em torno de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

SOUZA, R. Introdução à poética da ironia. In: Revista Linha de Pesquisa, Rio de Janeiro, v.1, n. 1, p. 27-48, out. 2000.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.30.4.95-119

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2022 Miriam Piedade Mansur Andrade

Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira
ISSN 0102-4809 (impressa) / ISSN  2358-9787 (eletrônica)

License

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.