Pistas da consciência sociolinguística no uso de palavrões em uma obra literária / Clues of sociolinguistic awareness in the use of profanity profanity in a literary work

Keila Vasconcelos Menezes

Abstract


Resumo: Os palavrões são marcas linguísticas alvo de forte estigma social. Os falantes monitoram seus usos linguísticos a depender de seu interlocutor (BELL, 1984), e observando o monitoramento linguístico de um mesmo falante em duas situações distintas, podemos acessar a sua consciência sociolinguística. Este estudo é de natureza qualitativa e quantitativa e observa o uso de palavrões para construir as personas sociais em duas versões de uma mesma obra. Comparamos a frequência de palavrões em uma versão manuscrita e na versão publicada de Feijão de Cego, de Vladimir Carvalho, e analisamos os comentários metalinguísticos presentes nas falas das personagens. Os resultados evidenciam a consciência sociolinguística do autor, que retrata, nos diálogos de suas personagens, juízos valorativos de estigma acerca do uso de palavrões. Já o monitoramento linguístico se destaca através da significativa diminuição e/ou retirada de palavrões na versão publicada da obra, substituindo-os por lexias menos estigmatizadas. Com isso, constatamos que os efeitos de monitoramento linguístico são passíveis de observação não só em corpora orais, mas também no texto literário, onde há a busca por uma polidez linguística, de modo a aproximar-se de seu interlocutor (o público leitor).
Palavras-chave: sociolinguística; texto literário; monitoramento linguístico.

Abstract: Swear words are subject to strong social stigma. Speakers monitor their linguistic uses depending on their interlocutor (BELL, 1984), and by observing the linguistic monitoring of the same speaker in two different situations, we can access his/her sociolinguistic awareness. This study is qualitative and quantitative in nature and observes the use of profanity to build social personas in two versions of the same book. We compared the frequency of profanity in a handwritten version and in the published version of Feijão de Cego, by Vladimir Carvalho, and analyzed the metalinguistic comments present in the characters’ speech. The results show the sociolinguistic awareness of the author, who portrays, in the dialogues of his characters, evaluative judgments of stigma about the use of profanity. On the other hand, linguistic monitoring stands out through the significant reduction and/or removal of profanity in the published version of the work, in which swearwords are replaced with less stigmatized lexias. Thus, we found that the effects of linguistic monitoring can be observed not only in oral corpora, but also in literary texts, in which there is a tendency towards linguistic politeness, in order to get closer to its interlocutor (the reader public).
Keywords: sociolinguistics; literary text; linguistic monitoring.


Keywords


sociolinguística; texto literário; monitoramento linguístico; sociolinguistics; literary text; linguistic monitoring

References


BELL, A. Language Style as Audience Design. Language in Society, v. 13, n. 2, 1984, p. 145–204. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/4167516. Acesso: 17 ago. 2022. DOI: 0047-4045/84/020145-60

Bíblia Thompson. Trad. de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Editora Vida, 2014.

BURGOS, P. A ciência do palavrão: o que está por trás dos xingamentos mais comuns. Superinteressante. [S.l.], 2020. Disponível em: https://super.abril.com.br/ciencia/a-ciencia-do-palavrao/. Acesso: 02 ago. 2022.

CAMBRAIA, C. N.; MARENGO, S. M. D. A. Estudo socioterminológico da variação/mudança em manuscritos militares dos séculos XVIII E XIX. Interdisciplinar-Revista de Estudos em Língua e Literatura, São Cristóvão, Dossiê Especial, n. 24, 2016, p. 203-224. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/interdisciplinar/article/view/5415. Acesso: 08 jun. 2022.

CARVALHO, V. S. Feijão de Cego – Contos Sergipanos. Curitiba:Juruá, 2009.

CARVALHO, V. S. Feijão de Cego. Versão manuscrita. s/d.

CORREIA, F. B. Implicações da variação pronominal e das formas de tratamento na construção das personas de História da Minha Infância, de Gilberto Amado. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 30, n.2, p. 519-544, 2022. DOI: 10.17851/2237-2083.27.4.519-544.

COSTA, G. B. da. Denominações para “diabo” nas capitais brasileiras: um estudo geossociolinguístico com base no Atlas Linguístico do Brasil. 199f. 2016.Tese (Doutorado em Língua e Cultura) – Programa de Pós-Graduação em Lingua e Cultura, Universidade Federal da Bahia. Salvador. 2016. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/26653. Acesso: 02 ago. 2022.

Dicionário InFormal. Dicionário Online. Disponível em: https://www.dicionarioinformal.com.br/.

ECKERT, P. Variation and the indexical field. Journal of Sociolinguistics, Oxford, v. 12, n. 4, 453-76, 2008. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/j.1467-9841.2008.00374.x. Acesso: 08 jun. 2022. DOI: 10.1111/j.1467-9841.2008.00374.x.

ECKERT, P. Three waves of variation study: the emergence of meaning in the study of sociolinguistic variation.Annual Review of Anthropology. Palo Alto, v. 41, 2012, p. 87-100. DOI: https://doi.org/10.1146/annurev-anthro-092611-145828.

ECKERT, P.; MCCONNEL-GINET, S. Communities of practice: Where language, gender and power all live. In: HALL, K.; BUCHOLTZ, M.; MOONWOMON, B. (eds.). Locating Power, Proceedings of the 1992 Berkeley Women and Language Conference. Berkeley: Berkeley Women and Language Group, 1992, p. 89-99.

FREITAG et al.Como o brasileiro acha que fala?. Signo y Seña, Buenos Aires, n 28, p.65-87, 2015. Disponível em: http://revistas.filo.uba.ar/index.php/sys/index.

FREITAG, R. M. K. O desenvolvimento da consciência sociolinguística e o sucesso no desempenho em leitura. Alfa: Revista de Linguística, São Paulo, v. 65, n.65, 2021. DOI: 10.1590/1981-5794-e13027.

FREITAG, R. M. K. Uso, crença e atitudes na variação na primeira pessoa do plural no Português Brasileiro. D.E.L.T.A: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, São Paulo, v. 32, p. 889-917, 2016. DOI: 10.1590/0102-44506992907750337.

FREITAG, R. M. K.; SANTOS, J. C.; SANTOS dos, S. Fio do Canço: marca linguística identitária do itabaianense. InterSciencePlace, v. 1, n. 5, 2009.

GENERALI, S. C. MV Bill e o diálogo do tráfico: monitoramento de fala, estilo, identidade e preconceito linguísticos. 2011. 170f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Programa de Pós-Graduação em Letras,Universidade Federal de Sergipe (UFS). São Cristóvão, 2011. Disponível em: https://ri.ufs.br/jspui/handle/123456789/5782.

GRENZER, M. Peste e epidemia: Configuração poética e reflexão teológica no Salmo 91. Estudos Teológicos, São Leopoldo, v.60. n.2. P. 433-445. 2020. DOI: http://dx.doi.org/10.22351/et.v60i2.4037.

MAIOR, M. S. Dicionário do palavrão e termos afins. 8. ed. Belo Horizonte: Editora Leitura, 2010.

MARQUES, W. de S.; OLIVEIRA, T. S. de. A cultura e a identidade materializadas nas crônicas de Winston Churchill Rangel: análise descritiva do léxico de Campos dos Goytacazes. Palimpsesto, v. 17, n. 28, p. 53-71, 2018. DOI:10.12957/palimpsesto.2018.36650.

MENEGUETTI, S. T.; TULLIO, C. M. Entre palavras e palavrões caminha a humanidade: Interfaces linguístico-discursivas. In: SOUSA, A.W.V. (ed.). Linguística, letras e artes e sua atuação multidisciplinar 2 [recurso eletrônico]. Ponta Grossa, PR: Atena, 2020. DOI: 10.22533/at.ed.067202307.

MICHAELIS. Dicionário Online. Editora Melhoramentos. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br.

ORSI, V. Tabu e preconceito linguístico. Revista Virtual de Estudos da Linguagem, Cidade, v. 9, n. 17,p. 334-348, 2011. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/122427. Acesso em: 22 Set 2022.

ORSI, V.; ZAVAGLIA, C. Itens lexicais tabus: usá-los ou não. Eis a questão. Revista Todas as Letras, São José do Rio Preto, v. 14, n. 2, p. 156-166, 2012. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/122502. Acesso em: 22 Set 2022.

PINHEIRO, B. F. M.; MENEZES, L. C. F.; FREITAG, R. M. K. Palavras-tabu e efeitos de gênero na leitura. In: LIMA, M.E.O.; FRANÇA, D.X.; FREITAG, R. (eds.). Processos psicossociais de exclusão social. São Paulo: Blucher OpenAccess, 2020.

PRETI, D. Sociolinguística: os níveis de fala: um estudo sociolinguístico do diálogo na literatura brasileira. 6. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.

POTTIER, B. et al. Estruturas lingüísticas do português. São Paulo: Difel, 1975.

R CORE TEAM (2022). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical Computing. Vienna, Austria. Disponível em: https://www.R-project.org/.

REZENDE, J. M. de. À sombra do plátano: crônicas de história da medicina [online]. São Paulo: Editora Unifesp, 2009. DOI: https://doi.org/10.7476/9788561673635.0008. Acesso: 02 ago. 2022.

SANDMANN, A. J. O palavrão: formas de abrandamento. Revista Letras, Curitiba, v. 42, p. 221-226, 1993. DOI: 10.5380/rel.v42i0.19127.

SANTOS, R. C. Z.; FILHO, N. L. Z. Violência, palavrões & Cia no conto “O cobrador”, de Rubem Fonseca. Revista Guará-Revista de Linguagem e Literatura, Goiânia, v. 8, n. 2, p. 189-200, 2018. DOI: 10.18224/gua.v8i2.6575.

SILVA, V. L. S. Representações sociais e questões de gênero: análise das nomeações genitais no dicionário InFormal. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Sergipe, 2022.

SOARES. T. de A. “Fi do Canço” marca identitária do Itabaianense: Uma abordagem sociolinguística. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Letras) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Sergipe. 2011.

SOUZA, C. F. de. Falares da Planície Goitacá no ciberespaço: documentando o linguajar proveniente da Baixada Campista. Revista VÉRTICES, Campos dos Goytacazes, v.17, n.1, p. 41-57, 2015. DOI: 10.5935/1809-2667.20150003.

SWINGLER, D. D. Tabu linguístico: mapeamento das atitudes relacionadas a palavrões e à influência que os fatores sociais, conversacionais, emocionais e de identidade exercem no seu uso cotidiano. 2016. 168f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal da Paraíba, 2016.

WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. [1968]. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística. São Paulo: Parábola, 2006.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.0.0.%25p

Refbacks

  • There are currently no refbacks.
';



Copyright (c) 2023 Keila Vasconcelos Menezes

Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.

e - ISSN 2237-2083 

License

Licensed through  Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional