Língua e meio ambiente

Hildo Honório do Couto

Abstract


Embora as primeiras reflexões sobre as inter-relações entre língua emeio ambiente recuem a pelo menos Heráclito e ao Crátilo de Platão,elas não rêm recebido a atenção que merecem na linguística moderna.Uma das poucas exceções é a escola dialetológica alemã conhecidacomo “Wörter und Sachen”. No século XX, Edward Sapir e EinarHaugen também tocaram no assunto, mas foi só na última décadado século passado que surgiu uma disciplina dedicada especificamentea esse tipo de inter-relações, ou seja, a ecolinguística. O principalobjetivo deste artigo é mostrar que há pelo menos quatro meiosambientes da língua, quais sejam, o ecossistema fundamental dalíngua, subdividido em três outros, que são os ecossistemas social,mental e natural da língua. Alguns dos principais assuntos que podemser abordados dessa perspectiva são sugeridos. Entre outras coisas,vê-se que há duas maneiras de atacá-lo. A primeira localiza a línguaentre nós e o mundo, o que significa que só temos acesso a ele pormeio dela. A segunda nos vê entre o mundo e a língua, o que implicaque ela é criada por nós para interagirmos não somente uns com osoutros, mas também com o próprio meio ambiente. Em sintoniacom a ciência moderna, a nova abordagem vê a língua como fazendoparte de uma teia de inter-relações, não isolada como nos modelosde Descartes e de Newton. Uma fonte adequada de onde se podemtirar conceitos para erigir as suas bases epistemológicas é a ecologia,parte da biologia, a ciência da vida. Na nova visão de mundo, cadaespecialista pode se dedicar ao seu domínio específico, mas não seesquecendo de que ele faz parte de um todo maior (ecossistema),com sua diversidade interna e as inter-relações que aí se dão.

Keywords


Língua; Meio ambiente; Sociedade; Natureza; Mente; Inter-relações; Ciência moderna.

References


ADAMS, Carol. Ecofeminism and the eating of animal. Hypatia, v. 6, n. 1, p. 125-145, 1991.

AMABIS, José M.; MARTHO, Gilberto R.Biologia das populações, genética, evolução e ecologia. 5. ed. São Paulo: Editora Moderna, 1995.

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1981.

BANDURA, Albert. Principles of behavior modification. New York: Holt, Rinehart & Winston, 1969.

BLOOMFIELD, Leonard. Language. New York: Holt, Rinehart & Winston, 1933.

BROWN, Colin M.; HAGOORT, Peter; KUTAS, Mart. Postlexical integration processes in language comprehension: Evidence from brain-imaging research. In: GAZZANIGA, Michael S. (Org.). The new cognitive neurosciences. Cambridge: The MIT Press, 2000. p. 881-895.

CAPRA, Fritjof. O tao da física. São Paulo: Cultrix, 2002.

CHOMSKY, Noam. Syntactic structures. 8. ed. Haia: Mouton, 1957.

CHOMSKY, Noam. Aspects of the theory of syntax. Cambridge: The MIT Press, 1965.

CHOMSKY, Noam. Knowledge of language. New York: Praeger, 1986.

CHOMSKY, Noam. Language and problems of knowledge: The Managua lectures. Cambridge: The MIT Press, 1988.

CHOMSKY, Noam. Chomsky no Brasil. Número especial de DELTA, v. 13, 1997.

COULMAS, Florian. Sprache und Staat. Berlim: Walter de Gruyter, 1985.

COUTO, Hildo Honório do. Introdução ao estudo das línguas crioulas e pidgins. Brasília: Editora da UnB, 1996.

COUTO, Hildo Honório do. Sobre o conceito de comunidade surda. Revista de Estudos da Linguagem v. 3, p. 193-219, 2005.

COUTO, Hildo Honório do. Ecolinguística: estudo das relações entre língua e meio ambiente. Brasília: Thesaurus Editora, 2007.

DØØR, Jørgen; BANG, Jørgen Chr. Language, ecology and truth – dialogue and dialectics. In: Fill (org.): 17-25, 1996.

FILL, Alwin. Ökologie: Eine Einführung. Tübingen: Gunter Narr Verlag, 1993.

FRANÇA, Aniela Improta. Neurolinguística. Ciência hoje, v. 36, 21, p.20-25, 2005.

FRANÇOZO, Edson. Modelos conexionistas do processamento sintático. In: MAIA, Marcus; FINGER, Ingrid (Org.). Processamento da linguagem. Pelotas (RS): EDUCAT, 2005. p. 443-458.

GAZZANIGA, Michael S. (Org.). The new cognitive neurosciences. Cambridge: The MIT Press, 2000.

GLASERSFELD, Ernst von. Cognition, construction of knowledge, and teaching. Synthese, v. 80, n. 1, p. 121-140, 1989.

GUMPERZ, John. Speech community. In: GIGLIOLI, Pier Paolo (Org.). Language and social context. Harmondsworth: Penguin Books, 1972. p. 219-231.

HAGÈGE, Claude. L’homme de paroles. Paris: Fayard, 1985.

HAIMAN, John. The iconicity of grammar: isomorphism and motivation. Language, v. 56, n. 3, p. 515-540, 1980.

HAUGEN, Einar. The ecology of language. Stanford: Stanford University Press, 1972. p. 325-339.

HEISENBERG, Werner. Física e filosofia. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1981.

HELBIG, Gerhard. Geschichte der neueren Sprachwisseschaft. 2. ed. Hamburgo: Rowohlt, 1975.

KUHL, Patricia K. Language, mind, and brain: Experience alters perception. In: GAZZANIGA, Michael S. (Org.). The new cognitive neurosciences. Cambridge: The MIT Press, 2000. p. 99-115.

LAMB, Sydney M. Neuro-cognitive structure in the interplay of language and thought. In: PÜTZ, Martin; VESPOOR, Marjolijn H. (Org.). Explorations in linguistic relativity. Amsterdam: Benjamins, 2000. p. 173-196.

LEVELT, Willem J. M. Introduction. In: GAZZANIGA, Michael S. (Org.). The new cognitive neurosciences. Cambridge: The MIT Press, 2000.

p. 843-844.

LEWIN, Kurt. A dynamic theory of personality. New York: McGraw-Hill, 1935.

MAFFI, Luisa (Org.). On biocultural diversity: Linking laguage, knowledge, and the environment. Washington: Smithsonian Institution Press, 2001.

MAFFI, Luisa. Linguistic and biological diversity: The inextricable link. Disponível em: www.terralingua.org. Acesso em: 2002.

MANDELBAUM, David (Org.). Selected Writings of Edward Sapir in language, culture and personality. Berkeley: University of California Press, 1949. p. 89-103.

MELO, Fábio José Dantas de. Os ciganos calon de Mambaí: a sobrevivência de sua língua. Brasília: Thesaurus Editora, 2005.

MUFWENE, Salikoko. The ecology of language evolution. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.

MÜHLHÄUSLER, Peter. Language of environment – Environment of language: A course in ecolinguistics. Londres: Battlebridge, 2003.

NAESS, Arne. Heidegger, postmodern theory and deep ecology. The trumpeter, v. 14, n. 4, 1997.

OGDEN, C. K.; RICHARDS, I. A. O significado de significado. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1972.

PARADIS, Michel. Language and thought in bilinguals. In: The sixth LACUS Forum. Columbia, S.C.: Hornbeam Press, 1980. p. 420-431.

PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica e filosofia. São Paulo: Cultrix, 1972.

PINKER, Steven. Words and rules. New York: Perennial, 2000.

SALZINGER, Kurt. Ecolinguistics: A radical behavior theory approach to language behavior. In: AARONSON, Doris; RIEBER, Robert W. (Org.). Psycholinguistic research: Implications and applications. N. York: Erlbaum, 1979. p. 109-129.

SAPIR, Edward. Língua e ambiente. Linguística como ciência. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1969. p. 43-62.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. 5. ed. brasileira. São Paulo: Cultrix, 1973.

SCHAFF, Adam. Linguagem e conhecimento. Coimbra: Livraria Almedina, 1974.

SHARKEY, Noel. Fundamental issues for connectionist language processing. In: BROWN, Gillian; MALMKJAER, Kirsten; WILLIAMS, John (Org.). Performance and competence in second language acquisition. Cambridge: Cambridge University Press, 1996. p. 155-184.

TONNEAU, J. Sociologie économique. In: LEMONNYER, A. et al. Précis de sociologie. Marselha: Editions Publiroc, 1934. p. 93-147.

TANSLEY, Arthur G. The use and abuse of vegetational concepts and terms. Ecology, v. 16, n. 3, p. 284-307, 1935.

TRAMPE, Wilhelm. Ökologische Linguistik: Grundlagen einer ökologischen Wissenschafts- und Sprachtheorie. Opladen: Westdeutscher Verlag, 1990.

WEISGERBER, Leo. Die geschichtliche Kraft der deutschen Sprache. Düsseldorf: Pädagogischer Verlag Schwann, 1950.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.17.1.143-178

Refbacks

  • There are currently no refbacks.
';



Copyright (c)



e - ISSN 2237-2083 

License

Licensed through  Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional