Pesquisa em rede social sob a ótica bakhtiniana do dialogismo e da responsividade: a negação da ciência (entre)vista em tecnodiscursos no X/Twitter / Social Network Research from the Bakhtinian Perspective of Dialogism and Responsiveness: The Negation of Science (between)seen in Technodiscourses on X/Twitter

Emerson Tadeu Cotrim Assunção, Urbano Cavalcante Filho

Abstract


Resumo: É inegável que as relações sociais na atualidade estão afetadas pelos enunciados circulantes na Web. Isso se comprova pelo crescente número de pesquisas de objetos advindos dos tecnodiscuros (Paveau, 2021) sobre as rotinas dos cidadãos, a exemplo do impacto das redes sociais na divulgação da ciência e sobre negacionismos científicos. Pensando na potencialidade da Web e em afetamentos discursivos, objetiva-se apresentar procedimentos de coleta de dados em ambiente virtual que tratam de comentários de negação da ciência dispostos no X/Twitter da Veja (@Veja) em matérias sobre ciências da saúde no período de agravamento da pandemia no Brasil (março de 2020) e como esses comentários são dialógicos e responsivos (Bakhtin, 2015; 2016; Volóchinov, 2018) com os discursos de autoridade (Volóchinov, 2018) de Jair Bolsonaro, ex-Presidente do Brasil. A pesquisa se enquadra na abordagem qualitativa (Flick, 2009; Minayo, 2012) de inspiração netnográfica (Kozinets, 2014) e segue os procedimentos: a) utilizando a ferramenta de busca do próprio X/Twitter, buscou-se notícias com base nas palavras-chave sobre ciências da saúde (Brasil, 2022); em seguida, b) categorizou-se os comentários com negacionismos em palavras concretas; após isso, c) criou-se a nuvem de palavras com os termos de maior recorrência; feito isso d) fez-se uma criteriosa busca no google.com com esses mesmos negacionismos em discursos governamentais no Brasil e, por fim, e) analisou-se como esses comentários recuperam sentidos dos discursos de Jair Bolsonaro sobre a pandemia. As análises evidenciam que os discursos de negação da ciência presentes nos comentários estão em relação dialógico-responsiva com os discursos do ex-presidente.

 

Abstract: It is undeniable that current social relations are affected by statements circulating on the Web. This is evidenced by the growing number of researches on objects arising from technodiscourses (Paveau, 2021) in the routines of citizens, such as the impact of social networks on the dissemination of science and scientific denialism. Thinking about the potential of the web and discursive affects, the aim is to present data collection procedures in a virtual environment that deal with science denial comments made on Veja’s X/Twitter account (@Veja) in articles on health sciences during the period when the pandemic was worsening in Brazil (March 2020) and how these comments are dialogical and responsive (Bakhtin, 2015; 2016; Volóchinov, 2018) to the discourses of authority (Volóchinov, 2018) of Jair Bolsonaro, former President of Brazil. The research is based on a qualitative approach (Flick, 2009; Minayo, 2012) inspired by netnography (Kozinets, 2014) and follows these procedures: a) using X/Twitter’s own search tool, we looked for news based on keywords about health sciences (CAPES, 2022); then, b) we categorised the comments with denialism into specific words; after that, c) we created a word cloud with the most recurrent terms; after that, d) we did a careful search on google.com these same negationisms in government speeches in Brazil and, finally, e) it was analyzed how these comments recover meanings from Bolsonaro’s speeches about the pandemic. The analyses show that the discourses of science denial present in the comments are in a dialogical-responsive relationship with the former President’s discourses.


Keywords


negacionismo; tecnodiscurso; dialogia; responsividade; Jair Bolsonaro; negationism; technodiscourse; dialogue; responsivenes.

References


ASSUNÇÃO, E. T. C.; CAVALCANTE FILHO, U. Não é só uma gripezinha, Presidente! A responsividade enunciativa materializada em comentários e cartazes. Contribuciones a las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v. 17, n. 1, 2024. DOI: 10.55905/revconv.17n.1-432.

BAKHTIN, M. Teoria do romance I. A estilística. Tradução, prefácio, notas e glossário Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2015.

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2016.

BRAIT, B. Análise e teoria do discurso. In: BRAIT, B. (org.). Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2006, p. 9-32.

BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Tabela de Áreas de Conhecimento/Avaliação. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/avaliacao/instrumentos/documentos-de-apoio/tabela-de-areas-de-conhecimento-avaliacao. Acesso em: 10 maio 2023.

FANCELLI, U. Populismo e Negacionismo: o uso do negacionismo como ferramenta para a manutenção do poder populista. Curitiba: Appris editora, 2022.

FLICK, U. Introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009.

KOZINETS, R. V. Netnografia: Realizando pesquisa etnográfica online. São Paulo: Penso Editora, 2014.

MINAYO, M. C. S. Análise qualitativa: teoria, passos e fidedignidade. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.17 n. 3, p. 621-626, 2012. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/csc/2012.v17n3/621-626/pt Acesso em: 10 maio 2023.

MUSSI, R. F. de F.; MUSSI, L. M. P. T.; ASSUNÇÃO, E. T. C.; NUNES, C. P. Pesquisa Quantitativa e/ou Qualitativa: distanciamentos, aproximações e possibilidades. Revista Sustinere, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, 2019. DOI: https://doi.org/10.12957/sustinere.2019.41193

NOVELI, M. Do Off-line para o Online: a Netnografia como um Método de Pesquisa ou o que pode acontecer quando tentamos levar a Etnografia para a Internet? Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, Ano 6, n. 12, julho-dezembro 2010. DOI: 10.15603/1982-8756/roc.v6n12p107-133

PAVEAU, M-A. Análise do Discurso Digital: dicionário das formas e das práticas. Organização de Julia Lourenço Costa e Roberto Leiser Baronas. Campinas: Pontes, 2021.

RECUERO, R. Discurso mediado por computador nas redes sociais. In: LEFFA, V.; ARAÚJO, J. Redes sociais e ensino de línguas: o que temos que aprender? São Paulo: Parábola, 2016. p.17-32.

RECUERO, R.; GRUZD, A. Cascatas de Fake News Políticas: um estudo de caso no X/Twitter. Galáxia, São Paulo, v. 21, 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/1982-25542019239035

RECUERO, Raquel; ZAGO, Gabriela. Em busca das “redes que importam”: redes sociais e capital social no X/Twitter. Líbero, São Paulo, v. 12, n. 24, p. 81-94, 2016. Disponível em: Disponível em: https://static.casperlibero.edu.br/uploads/2014/05/Em-busca-das-%E2%80%9Credes-que-importam%E2%80%9D.pdf Acesso em: 20 jul. 2024.

SOARES, S. S. D; STENGEL, M. Netnografia e a pesquisa científica na internet. Psicologia USP, São Paulo, v. 32, 2021. DOI: https://doi.org/10.1590/0103-6564e200066

SZWAKO, J.; RATTON, J. L. Dicionário dos negacionismos no Brasil. Recife: CEPE Editora, 2022.

VOLÓCHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico da linguagem. Tradução Sheila Grillo e Ekaterian Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2018.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.32.2.449-478

Refbacks

  • There are currently no refbacks.
';



Copyright (c) 2024 Emerson Tadeu Cotrim Assunção, Emerson Tadeu Cotrim Assunção, Urbano Cavalcante Filho

Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.

e - ISSN 2237-2083 

License

Licensed through  Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional