O mundo que perdeu suas paredes: Lalinha e o belo poço parado em “Buriti” de João Guimarães Rosa

Sarah Maria Forte Diogo

Resumo


Este artigo tem por objetivo investigar o modo como são configuradas as transformaçõesem “Buriti”, novela de Noites do Sertão, de Corpo de baile (1956), de João GuimarãesRosa, especificamente a partir da chegada de Lalinha (Lala/Leandra), que desencadeiamudanças na ambiência até então fechada da estância Buriti Bom, espaço arquitetadoficcionalmente para ser um paraíso. Essa personagem citadina estabelece relações com IôLiodoro, seu ex-sogro, e Maria da Glória, sua ex-cunhada, introduzindo na fazendaenergias eróticas e sedutoras capazes de instituir fissuras no sistema patriarcal plasmadopela narrativa. No espaço ficcional em que as ações ocorrem, nota-se que as experiênciassexuais e o erotismo são vivenciados apenas para além dos muros da propriedade, comose fossem proibidos no interior da fazenda. Com a chegada de um elemento femininoexterno, os desejos se aguçam e a vivência da sexualidade desperta uma série demudanças na rotina da fazenda: a noite passa a ser um dos momentos mais agitados,quando os personagens entregam-se à possibilidade de conhecerem a linguagem de seuscorpos e suas vontades. O narrador coloca, em oposição a Lalinha, a personagem MariaBehú que, com suas rezas e sua alusão ao passado, tenta defender o mundo do BuritiBom de mudanças severas, como a vivência dos prazeres carnais. Esta narrativa pode serlida como a abertura de um complexo ambiente e de seus habitantes ao erotismo e àsensualidade como maneiras de reconhecer a si e ao outro.

Palavras-chave


João Guimarães Rosa; Linguagem; Mudança; Patriarcalismo; Construção de personagens.

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Referências


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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2317-4242.3.0.292-305

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Revele: Revista Virtual dos Estudantes de Letras
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