Paratopia e escritura em arquitetura: uma aproximação ao discurso arquitetural de Oscar Niemeyer

Raquel Julião

Resumo


Este trabalho pretende cotejar a noção de paratopia, proposta pelo teórico do discurso Dominique Maingueneau, com a ideia barthesiana de escritura. A paratopia se refere ao lugar paradoxal do autor, entre sua criação e um contexto social. Escritura é traço material que identifica uma marca do sujeito, um posicionamento particular. E num sentido mais radical, é ligada ao corpo do autor (ou artista), ao seu gesto: é expressão pulsional. Assim, a partir de uma leitura do tipo interpretação, que leva em conta o contexto sócio histórico, é possível abordar uma construção subjetiva – uma tomada de posição política e estética (numa palavra: ética). Além disso, a adoção da noção de escritura permite tomar o objeto arquitetural também na sua dimensão escritural. A escolha desses conceitos se justifica pelo caráter do corpus: trata-se de um certo discurso arquitetural, especificamente o de Oscar Niemeyer, marcado pela curva livre (discurso que inclui não só sua produção textual, mas também suas obras de arquitetura e seus desenhos). Neste trabalho, vamos pesquisar procedimentos de embreagem paratópica no discurso do arquiteto – e que desde já estão ligados ao tema da liberdade, mas também aos temas da leveza e da surpresa ou do inesperado. Enquanto o tema da liberdade dialoga, por um lado, com o pensamento comunista e, por outro lado, com o movimento modernista no campo das artes plásticas, o embreador surpresa vai sustentar a escritura. O traço de Niemeyer, identificamos na adoção da curva livre, que não só bordeja o tema da liberdade, mas se torna a assinatura desse arquiteto.

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Referências


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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2317-4242.6.0.98-115

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Revele: Revista Virtual dos Estudantes de Letras
ISSN 2317-4242 (eletrônica)

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