“Museus vivos das tradições humanas”: Alexina de Magalhães Pinto e sua concepção sobre o “papel eminentemente educador dos contos” / “Living Museums of Human Traditions”: Alexina de Magalhães Pinto and her Conception About the “Eminent Educational Role of the Tales”

Rita de Cássia Silva Dionísio Santos, Flávia Brocchetto Ramos

Resumo


Qual o tipo de conhecimento pode um conto popular transmitir? Pode o conto contribuir para a formação humana? Em “Nota preliminar” do livro Contribuição do folk-loro brazileiro para a bibliotheca infantil (1907), a escritora e folclorista mineira Alexina de Magalhães Pinto (1869–1921), nomeando os contos populares (quer sejam “de fadas, fabulosos ou bíblicos”) como “museus vivos das tradições humanas”, argumenta que essas narrativas conteriam papel “eminientemente educador”. Este artigo apresenta a autora, sua produção e, na sequência, analisa a “Historia (sic) de um cachorrinho”, que integra a coletânea supracitada, com o objetivo de se refletir sobre essa função educadora dos contos (de que nos fala a autora). Desta análise — de caráter metodológico bibliográfico e crítico-analítico — resulta o entendimento sobre a contribuição singular de Alexina de Magalhães Pinto para a história da literatura infantil brasileira, em seu sentido amplo. Esse legado é notável por seu empenho em  realizar uma pesquisa etnográfica e histórica para compor obras a partir da tradição oral e do folclore brasileiro para servir às gerações futuras. O mérito dessa tarefa reside no fato de a autora ter se dedicado, naquele tempo, a um debate sobre a potência que a ficção detém de nos ensinar sobre a vida. É possível concluir, a partir desta análise, que as produções literárias e ficcionais, ao possibilitarem a fabulação, podem instruir e educar, entre outros aspectos, por seu caráter de transcender limites de tempos, modos e formas de representação das múltiplas e diversas experiências.

Palavras-chave: Alexina de Magalhães Pinto; literatura infantil; conto popular.

What is the social character of folktales? Can tales contribute to human
formation? In the “Preliminary note” of the book Contribuição do folk-loro brazileiro para a bibliotheca infantil (1907), the writer and folklorist from Minas Gerais, Alexina de Magalhães Pinto (1869–1921), naming folktales (whether they are “fairy tales, fabulous or biblical”) as “living museums of human traditions”, argues that those narratives would contain an “eminently educational” role. This paper presents the author, her work, and, thereafter, analyzes “Historia (sic) de um cachorrinho”, which is part of the collection mentioned above, aiming to reflect upon this function of the tales of instructing and educating (which the author talks about). From this analysis — of a bibliografic and critical-analytical nature — results the understanding about the unique contribution of the teacher and researcher Alexina de Magalhães Pinto for the history of Brazilian children’s literature, in its broad sense (especially for her commitment in carrying out an ethnographic and historical research to compose works from oral tradition and Brazilian folklore to serve generations), and also the perception about the merit of her task of launching, at that time, a debate about the humanizing character of fiction. It is possible to conclude, from this analysis, that literary and fictional productions, by making fabulation possible, can instruct and educate, among other aspects, because of their character of transcending limits of time, modes and forms of representation of multiple and diverse experiences.

Keywords: Alexina de Magalhães Pinto; children’s literature; folktale.


Palavras-chave


Alexina de Magalhães Pinto; Literatura Infantil; Conto popular; children’s literature; folktale.

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2238-3824.27.1.246-262

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