A noite das mulheres cantoras e ressonâncias coloniais / The Night of the Singing Women and Colonial Resonances

Adilson Fernando Franzin

Resumo


Resumo: Com a publicação do romance intitulado A noite das mulheres cantoras, em 2011, Lídia Jorge lança-se a perscrutar o efêmero cenário da música pop numa trama envolvente, a qual não somente aponta para importantes aspectos da vida cultural portuguesa, mas também demonstra certa ousadia autoral em transformar em matéria literária os meandros do espetáculo midiático e suas contradições. Pelas palavras da escritora, “na história de um bando conta-se sempre a história de um povo”, logo, o quinteto vocal entregar-se-á de modo fáustico não a uma grande causa, mas à busca desmesurada pelo estrelato, diante do qual parece não importar valores éticos, estéticos e ideológicos a expor, pois, seus corpos a uma inevitável violência não apenas simbólica. Se as aptidões artísticas unem as personagens nesse peculiar microcosmo que certamente privilegia o universo feminino, o fato de pertencerem a famílias de retornados amplia a mensagem que subjaz à narrativa: a derrocada do império português em África e a retomada da democracia. Portanto, antigos fados ou os célebres versos de “Uma casa portuguesa” ficarão para trás ante o ritmo frenético dos novos tempos. Ora, é Portugal mais perto do chamado mundo globalizado e a distanciar-se da longa noite salazarista. Enfim, este pequeno estudo terá como aporte teórico, entre outros, as reflexões de Eduardo Lourenço, Roland Barthes e Guy Debord e servirão para o cotejo do referido romance, cuja crítica parece apresentar lacunas, não obstante a vigorosa letra de uma das mais consagradas escritoras da literatura portuguesa.

Palavras-chave: Lídia Jorge; literatura portuguesa; romance português contemporâneo; literatura de autoria feminina; sociedade do espetáculo.

Abstract: With the publication of the novel entitled The night of the singing women, in 2011, Lídia Jorge looks closely at the ephemeral scene of the pop music in an engaging plot, which not only points to important aspects of Portuguese cultural life, but it also demonstrates a certain authorial boldness in turning into literary matters the intricacies of the media spectacle and its contradictions. In the words of the writer, “in the history of a band one always tells the story of a people”, so to achieve fame, the vocal quintet will not care about ethical, aesthetic and ideological values that will expose their bodies to unavoidable violence that is not just symbolic. If artistic skills unite the characters in this peculiar microcosm, which certainly favors the female universe, the condition of belonging to returnee families expands the message that underlies the narrative: the collapse of the Portuguese empire in Africa and the resumption of democracy. So old fados or the famous verses of “A Portuguese Home” will be left behind in the frenetic pace of the new times. Now Portugal is closer to the so-called globalized world and moving away from the long Salazar night. Finally, this small study will have as theoretical support, among others, the reflections of Eduardo Lourenço, Roland Barthes and Guy Debord will serve for the analysis of this novel, whose criticism seems to have gaps, despite the vigorous writing of one of the most famous writers of Portuguese literature.

Keywords: Lídia Jorge; Portuguese literature; contemporary Portuguese novel; female authored literature; society of the spectacle.


Palavras-chave


Lídia Jorge; literatura portuguesa; romance português contemporâneo; literatura de autoria feminina; sociedade do espetáculo; Lídia Jorge; Portuguese literature; contemporary Portuguese novel; female authored literature; society of the spectacle.

Texto completo:

PDF

Referências


AUSTIN, J. L. Quand dire c’est faire. Paris: Seuils, 1970.

BARTHES, R. Oeuvres complètes. Paris: Seuil, 2002.

CHEVALIER, J.; GHEERBRANT, A. Dictionnaire des symboles. Paris: Robert Laffont; Jupiter, 1982.

DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

DUNDER, M. Entre prodígios, murmúrios e soldados: o romance de Lídia Jorge. Orientadora: Marlise Vaz Bridi. 2013. 229f. Tese (Doutorado em Literatura Portuguesa) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8150/tde-14022014-122111/publico/2013_MauroDunder.pdf. Acesso em: 01 nov.2019.

JORGE, L. A costa dos murmúrios. Lisboa: Dom Quixote, 1988.

JORGE, L. A noite das mulheres cantoras. Lisboa: Dom Quixote, 2011.

JORGE, L. Notícia da cidade silvestre. Lisboa: Dom Quixote, 1984.

JORGE, L. O dia dos prodígios. Lisboa: Dom Quixote, 1980.

LOURENÇO, E. Do colonialismo como nosso impensado. Lisboa: Gradiva, 2014.

MARTEL, F. Mainstream: enquête sur la guerre globale de la culture et des medias. Paris: Flammarion, 2011.

MOISÉS, M. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2008.

PACHECO, N. Uma casa portuguesa, sem certezas nenhuma. Público. Porto, 2017. Disponível em: https://www.publico.pt/2017/09/21/culturaipsilon/opiniao/uma-casa-portuguesa-sem-certezas-nenhumas-1785942. Acesso em: 30 set. 2019.

SARAMAGO, J. Ensaio sobre a cegueira. Lisboa: Caminho, 1995.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2359-0076.39.62.81-97

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2019 Adilson Fernando Franzin

Revista do Centro de Estudos Portugueses
ISSN 1676-515X (impressa) / ISSN 2359-0076 (eletrônica)

Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional

.