O (autor)retrato da melancolia pessoana: a deformação e o hematoma no Livro do desassossego// The (self-)portrait of Fernando Pessoa’s melancholy: the deformation and the bruise in The book of disquiet

Resumo

Resumo: Este artigo tem como foco analisar a maneira pela qual a deformação e o desfiguramento da autopercepção registrados no tecido pessoano abordado, o Livro do desassossego, engendram e subsidiam o senso de melancolia, vazio e tédio, isto é, a comunhão intima entre a forma descritiva que Bernardo Soares, semi-heterônimo de Pessoa, utiliza para apresentar seu retrato em face dos outros externos com os efeitos de sentido produzidos. Para isso, parte-se do método dedutivo a fim de consolidar as exposições propostas – no caso, buscam-se estudos acerca da melancolia, tédio e autorretrato para incidir, no rosto pessoano, conclusões retiradas das descrições selecionadas. Diante disso, a pesquisa constatou que Soares carrega um asco no contemplar-se, considerando-o como vil; implicitamente, revela-se a ideia de que a autoconsciência é solapadora ao ego. Portanto, a melancolia não é decorrência de se contemplar, mas, sim, implicação direta da consciência do Eu em seu lugar no mundo. Por fim, nota-se que a voz do texto arbitrariamente transmuta sua face aos moldes melancólicos (face esquálida e inexpressiva) ao passo que ressalta a potência dos externos (faces robustas e vívida), pontos descritivos que demonstram seu apequenamento e, por extensão, seu rombo interno. Na construção das referências, chamam-se Ferrari & Pizarro (2017) e Zenith (2011) na introdução do Livro para formular os itinerários da obra analisada; Didi-Huberman (1998) na visão sobre o rosto, retrato e suas demarcações simbólicas; Scliar (2003) e Svendsen (2006) na consolidação da melancolia e tédio e Lopes (2014), Anghel (2014) e outros na análise do corpus.
Palavras-chave: Livro do desassossego; Fernando Pessoa; Bernardo Soares; retrato; melancolia.

Abstract: This article focuses on analyzing the way that the deformation and disfigurement of self-perception registered in the work, The book of disquiet, engender and subsidize the sense of melancholy, emptiness and boredom; in other words, the intimate communion between the descriptive form that Bernardo Soares, Pessoa’s semi-heteronym, uses to outline his portrait in relation to others with the effects of meaning produced. For this, the deductive method is used to consolidate the proposed considerations. In view of this, the research found that Soares is disgusted with contemplating himself, considering it as vile act; implicitly, he reveals the idea that self-consciousness is ego-undermining. Therefore, melancholy is not a result of contemplating oneself, but rather a direct implication of the consciousness of the Ego in its place in the world. Finally, it is noted that the voice of the text arbitrarily transmutes its face into melancholic molds (squalid and inexpressive face) while it emphasizes the strongness of the external ones (robust and vivid faces), descriptive points that demonstrate its diminution and, by extension, its internal hole. In the construction of references, Ferrari & Pizarro (2017) and Zenith (2011) are called in the introduction of The book to formulate the itineraries of the analyzed work; Didi-Huberman (1998) in the vision about the face, portrait and its symbolic boundaries; Scliar (2003) and Svendsen (2006) in the consolidation of melancholy and boredom and Lopes (2014) and Anghel (2014) and other names in the analysis of the corpus.
Keywords: The book of disquiet; Fernando Pessoa; Bernardo Soares; portrait; melancholy.