“O mais seguro é não julgar ninguém”: o tribunal do júri no conto Suje-se gordo! de Machado De Assis// “The safest is not to judge anyone”: the jury court in the story Suje-se gordo! by Machado de Assis

Tiago Miguel Stieven, Gerson Luís Trombetta, Ivânia Campigotto Aquino

Resumo


Resumo: O artigo analisa o modo como as dinâmicas do Tribunal do Júri são representadas no conto Suje-se gordo!, de Machado de Assis. A argumentação está organizada da seguinte forma: inicialmente, há breves considerações sobre as relações possíveis entre Literatura e Direito; após, alguns apontamentos acerca da compreensão do que seja a representação e o imaginário; na sequência, procede-se à análise do conto com ênfase nas questões jurídicas referentes ao procedimento do Tribunal do Júri; por fim, às considerações finais. O conto se constitui em uma crítica à hipocrisia que circunda os rituais do Tribunal do Júri. Procura-se demonstrar a crítica efetuada por Machado de Assis em relação à noção consolidada no imaginário popular acerca do Tribunal como um espaço infalível de aplicação da justiça. O escritor levanta “suspeitas” sobre essa representação, porém, não fornece as respostas, deixando para o leitor a tarefa de elaborar as conclusões. Como resultados, tem-se que a Literatura, nesse contexto, pode atuar consideravelmente, para humanização do Direito, funcionando como um meio de aprendizado para melhor compreensão dos fenômenos jurídicos.

Palavras-chave: literatura; direito; representações; tribunal do júri; Machado de Assis.


Abstract: The article analyzes how the dynamics of the Jury Court are represented in the short story Suje-se gordo!, by Machado de Assis. The argumentation is organized as follows: initially, there are brief considerations about the possible relationships between Literature and Law; after, some notes about understanding what representation and imaginary are; then, the tale is analysed with emphasis on the legal issues relating to the jury court procedure; finally, the final considerations. The tale constitutes a critique of the hypocrisy that surrounds the rituals of the Jury Court. It seeks to demonstrate the criticism made by Machado de Assis in relation to the notion consolidated in the popular imaginary about the Court as an infallible space of application of justice. The writer raises “suspicions” about this representation, however, does not provide the answers, leaving to the reader the task of drawing the conclusions. As results, it is found that literature, in this context, can act considerably, for humanization of law, functioning as a means of learning for a better understanding of legal phenomena.

Keywords: literature; law; representations; jury court; Machado de Assis.


Palavras-chave


literatura; direito; representações; tribunal do júri; Machado de Assis; literature; law; representations; jury court.

Texto completo:

PDF

Referências


ALKMIM, Gustavo Tadeu. A retórica de Bento Santiago, um advogado. In: CORDEIRO, Marcus Vinicius (Org.). Reminiscências Jurídicas na Obra de Machado de Assis. Rio de Janeiro: OABRJ, 2008.

ARMANGE, Ana Helena Krause. O Diálogo entre Narrador e Narratário em Contos Machadianos e sua Contribuição para a Significação. 2004. 127 f. Dissertação (Mestrado em Letras) — Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

ASSIS, Machado de. Suje-se gordo! In: ASSIS, Machado de. Relíquias da Casa Velha. Rio de Janeiro: H. Garnier, Livreiro-Editor, 1906. p. 81-86.

BRASIL. Constituição (1891). In: PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Legislação Republicana Brasileira. Rio de Janeiro, 1891. Disponível em: . Acesso em: 27 jul. 2021.

BRASIL. Constituição (1988). In: PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Legislação Republicana Brasileira. Brasília, 1988. Disponível em: . Acesso em: 30 jul. 2021.

BRASIL. Constituição Política do Império de 25 de março de 1824. In: PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Legislação Republicana Brasileira. Rio de Janeiro, 1824. Disponível em: . Acesso em: 06 ago. 2021.

BRASIL. Decreto de 18 de julho de 1822. In: PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Legislação Republicana Brasileira. Rio de Janeiro, 1822. Disponível em: . Acesso em: 04 ago. 2021.

CANDIDO, Antonio. Crítica e sociologia. In: CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. São Paulo: Publifolha, 2000.

CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: CANDIDO, Antonio. Vários escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2011.

CARPEAUX, Otto Maria. Ensaios reunidos. Rio de Janeiro: Topbooks, 2017.

CASTORIADIS, C. The Imaginary Institution of Society. Tradução Kathleen Blamey. Cambridge, Malden: Polity, 2005.

CHARAUDEAU, Patrick. Les stéréotypes, c´est bien, les imaginaires, c´est mieux. In: BOYER, H. Stéréotypage, stéréotypes: fonctionnements ordinnaires et mises en scène. Langue(s), discours. vol. 4. p. 49-63. Paris, Harmattan, 2007.

CHARTIER, ROGER. O mundo como representação. In: Estudos Avançados, Rio de Janeiro, n. 11(5), 1991.

CHAVES, Glenda Rose Gonçalves; LIMA, Carla Sales Serra de. Dom Casmurro de Machado de Assis: Uma Interface entre Direito e Literatura. 2011. Disponível em: . Acesso em: 12 ago. 2021.

DERRIDA, Jacques. Essa estranha instituição chamada literatura. Belo Horizonte: UFMG, 2014.

GAARKEER, Jeanne. Why law needs the humanities: judging from experience. Anamorphosis, Porto Alegre, RDL, v. 5, n. 1, p. 5-14, 2019.

GEWIRTZ, Paul. A Evolução do Movimento Direito e Literatura. Disponível em: . Acesso em: 27 jul. 2021.

GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes. Direito & Literatura: ensaio de síntese teórica. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.

GONZÁLEZ, José Calvo. Sair ao outro: afetividade e justiça em Mineirinho, de Clarice Lispector. Anamorphosis, Porto Alegre, RDL, v. 2, n. 1, p. 123-145, 2016.

HALL, Stuart. The Work of Representation. In: HALL, Stuart. Representation: Cultural Representations and Signifying Practices, (London/Milton Keynes: Sage/The Open University Press, 1997).

JAUSS, Hans Robert. A literatura como provocação: história da literatura como provocação literária. Trad. de Teresa Cruz. Lisboa: Veja, 1993.

KARAM, Henriete. Questões teóricas e metodológicas do direito na literatura: um percurso analítico-interpretativo a partir do conto “Suje-se gordo!”, de Machado de Assis. Revista Direito GV, v. 13, n. 3, p. 827-865, dez. 2017. Doi: http://dx.doi.org/10.1590/2317-6172201733.

LEFEBVRE, Henri. La presencia y la ausencia: contribuición a la teoria de las representaciones. (Trad. Espanhola de Óscar Barahona e Uxoa Doyhamboure). México: Fondo de Cultura Económica, 2006.

LIMA, Luiz Costa. História. Literatura. Ficção. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

LOESCH, Frank. Is acquaintance with legal novels essential to a lawyer? Illinois Law Review, Champaign, n. 21, p. 109-146, abr. 1926.

LUZ SEGUNDO, Elpídio Paiva. Machado de Assis e o imaginário jurídico moderno no Brasil: contribuições para o desvelamento epistemológico do positivismo jurídico. Anamorphosis – Revista Internacional de Direito e Literatura, Porto Alegre, RDL, v. 3, n. 1, p. 171-195, jan.-jun. 2017. Doi: http://dx.doi.org/10.21119/anamps.31.171-195.

MATOS, Miguel & SCHUBSKY, Cássio. Doutor Machado – o direito na vida e na obra de Machado de Assis. Ribeirão Preto: Migalhas, 2008.

MORAES, Renata Figueiredo. As relíquias literárias de Machado de Assis. Tempo e argumento, v. 2, n. 2, p. 182-199, jul./dez. 2010.

NASSIF, Aramis. Júri: instrumento da soberania popular. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.

PARENTONI, Roberto Bartolomei. Tribunal do Júri. 2011 Disponível em: . Acesso em: 26 de jul. 2021.

PESAVENTO, SANDRA J. Representações. Revista Brasileira de História. São Paulo: ANPUH/ Contexto, vol. 15, nº 29, 1995.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. Contribuição da história e da literatura para a construção do cidadão: abordagem da identidade nacional. In: PESAVENTO, Sandra Jatahy; LEENHARDT, Jacques (orgs.). Discurso Histórico e Narrativa Literária. Campinas, SP: UNICAMP, 1998.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & Literatura: uma velha-nova história, Nuevo Mundo Mundos [Emlínea] Nuevos, Debates, 2006. Disponível em: . Acesso em: 12 ago. 2021.

POSNER, Richard. Law and literature. Cambridge: Harvard University Press, 1998.

RIBEIRO; Fernando Armando. “Essa estranha instituição chamada literatura” e o direito. Anamorphosis – Revista Internacional de Direito e Literatura, Porto Alegre, RDL, v. 5, n. 2, p. 465-489, jul.-dez. 2019. Doi: http://dx.doi.org/10.21119/anamps.52.465-489.

RIOS, André Rangel. SUJE-SE GORDO!. 2012. Disponível em: . Acesso em: 10 ago. 2021.

STRECK, Lenio. Literatura e hermenêutica jurídica: de Antígona a O homem sem atributos. In: RIBEIRO, Fernando Armando; PIMENTA, Luciana; NOGUEIRA, Bernardo; Shakespeare e Cervantes: diálogos a partir do direito e literatura. Belo Horizonte: Letramento, 2016.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal. 29. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008.

TRINDADE, André Karam; GUBERT, Roberta Magalhães. Direito e literatura: aproximações e perspectivas para se repensar o direito. In: TRINDADE, André Karam; GUBERT, Roberta Magalhães; NETO, Alfredo Copetti (Orgs.). Direito & literatura: reflexões teóricas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.

VIEIRA, Harlei Cursino. Livro Doutor Machado. 2008. Disponível em: . Acesso em: 03 de ago. 2021.

WEISBERG, Richard H. The failure of the word: the protagonist as lawyer in modern fiction. New Haven: Yale University Press, 1984.

WIGMORE, John H. A list of legal novels. Illinois Law Review, v. 2, n. 9, p. 574-593, abr. 1908.

WIGMORE, John H. A list of legal novels. Illinois Law Review. The Brief, v. 2, p. 124-127, jan. 1900.

WIGMORE, John H. A list of one hundred legal novels. Illinois Law Review, v. 17, n. 1, p. 26-41, mai. 1922.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.31.4.112-137

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2023 Tiago Miguel Stieven, Gerson Luís Trombeta, Ivânia Campigotto Aquino

Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira
ISSN 0102-4809 (impressa) / ISSN  2358-9787 (eletrônica)

License

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.