“A língua também é um lugar de luta”: repertórios carolíneos para a contemporaneidade// “Language is Also a Place of Struggle”: Carolina Maria de Jesus’s Repertoires for the Present

Rosimeire Barboza da Silva, Lennita Oliveira Ruggi

Resumo


Resumo: Propomos neste texto uma leitura decolonial feminista da obra de Carolina Maria de Jesus, enfatizando a forma peculiar que a autora encontrou para dar vazão à sua luta pessoal por reconhecimento, ao mesmo tempo em que formulava críticas a respeito da estrutura política e econômica, das desigualdades sociais e do racismo estruturante da sociedade brasileira. Os insights teóricos fornecidos por feministas marxistas, negras e decoloniais nos ajudam a apresentar repertórios de resistência da mulher racializada e empobrecida que resistiu como pôde às sucessivas investidas de desumanização: desde as tentativas de disciplinarização contra seu corpo negro, por meio do trabalho servil na infância, adolescência e início da idade adulta, até os lugares que queriam lhe impingir após o reconhecimento literário e ascensão social. Carolina resistiu ativa e corajosamente às imposições racistas, classistas e sexistas. Sua obra segue alimentando as lutas e renovando a esperança de comunidades epistêmicas ao redor do mundo.
Palavras-chave: Carolina Maria de Jesus; repertórios de resistência; desumanização; feminismos decoloniais; literatura negra.


Abstract: This paper offers a feminist decolonial reading of the work of Carolina Maria de Jesus. It examines her struggle for recognition through her work and her mode of critique of the forms of social inequality, structural racism, economic exploitation, and political oppression found within Brazilian society. Theoretical insights provided by Marxist, Black and Decolonial feminists help us to identify the repertoires of resistance deployed by this racialized and impoverished woman to fight successive onslaughts of dehumanization. We examine her struggle against attempts to discipline her black body, the servile work she performed during childhood, adolescence and early adulthood, and her relegation to a subordinate role even after her literary recognition and social ascension. In doing so, Carolina actively and courageously defied racist, classist and sexist impositions. Her work continues to inspire the struggles and renews the hope of epistemic communities worldwide.
Keywords: Carolina Maria de Jesus; repertoires of resistance; dehumanization; decolonial feminisms; black literature.


Palavras-chave


Carolina Maria de Jesus; repertórios de resistência; desumanização; feminismos decoloniais; literatura negra; repertoires of resistance; dehumanization; decolonial feminisms; black literature.

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.32.2.305-330

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