Esaú e Jacó, a história dos subúrbios machadiana: fisiognomias de um Brasil carnavalizado// Esau and Jacob, the history of the Machadian suburbs: physiognomies of a carnavalized Brazil

Ana Clara Magalhães de Medeiros, Augusto Rodrigues da Silva Junior, Rafael Lima Lobo dos Santos

Resumo


Resumo: o presente artigo analisa o romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis, publicado em 1904, a partir do Morro do Castelo, tomado por nós como “imagem de pensamento” para uma leitura histórica e carnavalizada da narrativa assinada pelo Conselheiro Aires. A expressão destacada é de Walter Benjamin, pensador angular para o desenvolvimento do conceito de “fisiognomia”, termo estruturante de nosso pensamento, elaborado pelo crítico germano-brasileiro Willi Bolle. A noção de geopoesia, aqui entendida como prática teórica e literária que focaliza as margens artísticas e intelectuais, em suas expressões não apenas escritas, mas também vocalizadas, performadas e experimentadas no seio da cultura popular, soma-se às propostas bakhtinianas de carnavalização e inacabamento para dar corpo à moldura teórica deste estudo, que se funda em uma metodologia dialógica (nos termos de Mikhail Bakhtin). Por conclusões, verificamos como o romance machadiano da abertura do século XX consolida-se enquanto prosa carnavalizada e liminar (este último conceito de Victor Turner), que se tece como “história dos subúrbios” para contar o movimento da periferia no centro da História brasileira.
Palavras-Chave: Esaú e Jacó, Morro do Castelo, Geopoesia, Fisiognomia.


Abstract: This article analyzes the novel Esau and Jacob, by Machado de Assis, published in 1904, from Morro do Castelo, taken by us as “image of thought” for a historical and carnavalized reading of the narrative signed by Conselheiro Aires. The highlighted expression is by Walter Benjamin, angular thinker for the development of the concept of “physiognomy”, structuring term of our thinking, made by the German-Brazilian critic Willi Bolle. The notion of geopoetry, understood here as a theoretical and literary practice which focus on the artistic and literary margins, not only in its written expressions, but also vocalized, performed and experienced in the core of popular culture, it adds to the Bakhtinian proposals of carnavalization and incompleteness to embody the theoretical framework of this geopoetry´s study, which is based on a dialogic methodology (in Mikhail Bakhtin’s terms). Through conclusions, we verify how Machado’s novel of the opening of the 20th century is consolidated as carnivalized and liminal prose (this last concept by Victor Turner), which is structured as “history of the suburbs” to tell the movement of the periphery at the center of Brazilian History.
Keywords: Esau and Jacob, Morro do Castelo, Geopoetry


Palavras-chave


Esaú e Jacó; Morro do Castelo; Geopoesia; Fisiognomia; Geopoetry; Esau and Jacob.

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.32.1.48-65

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