O papel dos marcadores prosódicos na fluência de leitura / The role of prosodic markers in reading fluency

Alcione de Jesus Santos, Vera Pacheco, Marian dos Santos Oliveira

Abstract


Resumo: A escrita conta com recursos gráficos como marcadores prosódicos gráficos e marcadores prosódicos lexicais que indicam aspectos melódicos e rítmicos para o leitor (CAGLIARI, 2002a, 2002b; CHACON, 1998). O leitor fluente deve necessariamente recuperar, em sua leitura, esses aspectos prosódicos (SHREIBER, 1991; KUHN et al., 2003; BREZNITZ, 2006). Portanto, a prosódia é vista como uma característica que deve ser considerada para constatar a fluência. Nosso objetivo foi caracterizar a leitura em voz alta de leitores em diferentes níveis de ensino: leitores do 2º ano de ensino primário, leitores do 2º ano de ensino médio; leitores com nível de graduação, a fim de entender a relação entre a fluência de leitura e questões prosódicas. Preparamos um design experimental, no qual controlamos as frases-alvo sob o impacto de marcadores prosódicos. Preparamos duas condições experimentais: uma para o marcador prosódico lexical “perguntou” e uma para o marcador prosódico lexical “disse”. Através do Praat, medimos os valores da frequência fundamental de todas as sílabas tônicas das frases-alvo e extraímos as curvas melódicas das frases-alvo. Os resultados mostram que a capacidade de recuperar aspectos prosódicos incitados em texto por marcadores prosódicos são diretamente proporcionais aos níveis de escolaridade.

Palavras-chave: fluência de leitura; leitura e escrita; marcadores prosódicos.

Abstract: Writing has graphic resources such as graphic and lexical prosodic markers that indicate melodic and rhythmic aspects to the reader. (CAGLIARI, 2002a, 2002b); CHACON, 1998). The skilled reader must necessarily recover, in her/his reading, these prosodic aspects. Therefore, prosody is seen as a feature that should be considered during reading evaluation in order to check reading fluency. (SHREIBER, 1991; KUHN, 2003 et al.; BREZNITZ, 2006). This paper aims to characterize reading aloud of readers at different levels of education: readers on the 2nd year of primary education, readers on the 2nd year of high school and readers at the college undergraduate level in order to understand the relationship between reading fluency and prosodic issues. An experimental design was set, in which we control target phrases under the impact of prosodic markers. We also prepared two experimental conditions: one for the lexical prosodic marker “asked” and another for the lexical prosodic marker “said”. Through Praat we measured the values of fundamental frequency of all the tonic syllables of the target sentences and extracted the melodic curves of the target phrases. The results show that the ability to recover prosodic aspects brought about in text by prosodic markers is directly proportional to levels of education.

Keywords: reading fluency; reading and writing; prosodic markers.


Keywords


fluência de leitura; leitura e escrita; marcadores prosódicos; reading fluency; reading and writing; prosodic markers.

References


BALDWIN R. S.; COADY, J. M. Psycholinguistic Approaches to a Theory of Punctuation. Journal of Reading Behavior, Orlando, v. 10, n. 4, p. 363-375, 1978. Doi: https://doi.org/10.1080/10862967809547290

BREZNITZ, Z. Fluency in reading: synchonization of processes. Mahwah: Lawrence Elbaum Associates, 2006.

CAGLIARI, L. C. Marcadores prosódicos na escrita. In: SEMINÁRIO DO GRUPO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS, 18., 1989, Lorena. Anais [...] Lorena: Grupo de Estudos Linguísticos de São Paulo, 1989. p. 195-203.

CAGLIARI, L. C. Breve história da pontuação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE LINGUÍSTICA APLICADA, 4., 1995, Campinas. Anais [...], Campinas: Unicamp, 1995. p.177-183.

CAGLIARI, L.C. A estrutura prosódica do romance A Moreninha. 2002. 40f. Relatório (Estágio Pós-Doutoral) – Linacre College, University of Oxford, Oxford, 2002a.

CAGLIARI, L. C. Prosody and Literature: A Case Study of Chapter I from Women in Love by D. J. Lawrence. 28f. Relatório (Estágio Pós-Doutoral) – Linacre College, University of Oxford, Oxford, 2002b.

CHACON, L. Ritmo da escrita: uma organização do heterogêneo da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

CHEN, H. C.; CHAN, K. T.; TSOI, K. C. Reading selfpaced moving text on a computer display. Human Factors, New York, v. 30, n. 3, p. 285-291, Jun. 1988. Doiu: https://doi.org/10.1177/001872088803000303

COHEN, H.; DOUAIRE, J.; ELSABBAGH, M. The role of prosody in discourse. Brain and Cognition, San Diego, v. 46, n. 1-2, p. 73-81, jun./jul. 2001. Doi: https://doi.org/10.1016/S0278-2626(01)80038-5

CORRÊA, M. L. G. O modo heterogêneo de constituição da escrita. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

FERREIRA, R. D. S. Avaliação da fluência na leitura em crianças com e sem necessidades educativas especiais: validação de uma prova de fluência na leitura para o 2º ano do 1º C. E. B. 2009. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) – Faculdade de Motricidade Humana, Faculdade de Lisboa, Lisboa, 2009.

FÓNAGY, I. As funções modais da entonação. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, n. 25, p. 26-66, 1993.

FRY, D. B. Acoustic phonetics: a course of basic readings. Cambridge: Cambridge University Press, 1976.

FUSSEK, M. S. A influência de aspectos prosódicos na compreensão da linguagem oral e da leitura. 2009. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009.

t’HART, J.; COLLIER, R.; COHEN, A. A perceptual study of intonation. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. Doi: https://doi.org/10.1017/CBO9780511627743

HUDSON, R. F.; LANE, H. B.; PULLEN, P. C. Reading fluency assessment and instruction: What, why, and how? The Reading Teacher. Newark, v. 58, n. 8, p. 702-714, May 2005. Doi: https://doi.org/10.1598/RT.58.8.1

KONDO, T.; MAZUKA, R. Prosodic Planning While Reading Aloud: On-line Examination of Japanese Sentences. Journal of Psycholinguistic Research, Warsaw, v. 25, n. 2, p. 357-381, 1996. Doi: https://doi.org/10.1007/BF01708578

KUHN, M.; STAHAL, S. A. Fluency: a review of development and remedial practices. Journal of Educational Psychology, Tempe, Arizona, v. 95, p. 3-21, 2003. Doi: https://doi.org/10.1037/0022-0663.95.1.3

LEITE, C. T. A relação entre a compreensão e os aspectos prosódicos na leitura em voz alta de falantes do PE e do PB. 2012. 217f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.

MASSINI-CAGLIARI, G.; CAGLIARI, L. C. Fonética. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. v. 1, p. 105-146.

MATEUS, M. H. et al. Gramática da língua portuguesa. 2. ed. Lisboa: Caminho, 1994.

MATTOSO CÂMARA JR., Joaquim. Dicionário de Filologia e Gramática. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1977. 266p.

MORAES, J. A. A entoação modal brasileira: fonética e fonologia. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 25, p.101-111, 1993.

MORAES, J. A. Intonation in Brazilian Portuguese. In: HIRST, D.; Di CRISTO, A. (ed.). Intonation Systems: a Survey of Twenty Languages, Cambridge: Cambridge University Press, 1998. p. 179-194.

PACHECO, V. Estudo dos marcadores prosódicos através de uma investigação acústico-perceptual de textos lidos por falantes do português do Brasil. 2003. 132f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003.

PACHECO, V. O efeito dos estímulos auditivo e visual na percepção dos marcadores prosódicos lexicais e gráficos usados na escrita do português brasileiro. 2006. 349f. Tese (Doutorado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.

PACHECO, V. Evidências do funcionamento da língua oral no texto escrito. Interseccções, Jundiaí, v. 1, n. 1, p. 1-15, 2008.

QUILIS, A. Estudo Comparativo entre la Entonación Portuguesa (de Brasil) y la Española. Revista de Filosofia Española, Madrid, v. 68,

p. 33-65, 1988. Doi: https://doi.org/10.3989/rfe.1988.v68.i1/2.412

REINECKE, K. Parâmetros acústicos de perguntas sim-não e Wh- no alemão e no português brasileiro. Revista Letras, Curitiba, v. 73, p. 47-71, 2007. Doi: https://doi.org/10.5380/rel.v73i0.8626

REIS, C. A entonação no ato de fala. In: MENDES, E.; OLIVEIRA, P.; BENNIBLER, V. (org.). O novo milênio: interfaces linguísticas e literárias. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2001. p. 221-229.

SCARPA, E.M. Sons preenchedores e guardadores de lugar: relações entre fatos sintáticos e fatos prosódicos. In: SCARPA, E. M. (org). Estudos de prosódia. Campinas: Editora da UNICAMP, 1999. p. 253-284.

SHREIBER, P. A. Understanding prosody’s role in reading acquisition. Theory into Practise, v. 30, n. 3, p. 158-164, 1991. Doi: https://doi.org/10.1080/00405849109543496

SOUZA, K. K. Análise do fenômeno da declinação na entoação de sentenças declarativas isoladas dos falantes do Português Brasileiro. 2007. 144f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.

WENNERSTROM, A. The role of intonation in second language fluency. In H. Riggenbach (ed.). Perspectives on Fluency. Ann Arbor: Universidade de Michigan, 2000. p. 102-127.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.27.3.1417-1457

Refbacks

  • There are currently no refbacks.
';



Copyright (c) 2019 Alcione de Jesus Santos, Vera Pacheco, Marian dos Santos Oliveira

Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.

e - ISSN 2237-2083 

License

Licensed through  Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional