Argumentação erística nas interações digitais: uma polêmica médica sobre a cloroquina no Debate 360 da CNN Brasil / Eristic argumentation in digital interactions: a medical polemic about chloroquine in CNN Brazil’s Debate 360 show

Isabel Cristina Michelan de Azevedo, Paulo Roberto Gonçalves-Segundo, Eduardo Lopes Piris

Abstract


Resumo: Este artigo visa a analisar dois tipos de interações argumentativas erísticas realizadas na rede social YouTube da CNN Brasil: a interação entre debatedores e mediadores do Debate 360 e a interação entre os comentários dos usuários da rede social sobre o mesmo debate. Apoia-se nos aportes teóricos de Plantin (2008) sobre a perspectiva interacional da argumentação, de Amossy (2018) sobre a argumentação polêmica, de Walton (1998) sobre o diálogo erístico e de Culpeper (2011) e Blitvich (2010) sobre a impolidez na interação. O corpus constitui-se de doze intervenções argumentativas do debate e uma cadeia de nove comentários, caracterizados pelo diálogo de teor erístico. A análise do corpus focaliza (1) a interação entre dois especialistas sobre o tema controverso do uso da hidroxicloroquina em pacientes de covid-19, mediados por dois jornalistas e (2) a interação entre usuários da rede em reação à argumentação dos médicos. O estudo demarca quais características da modalidade polêmica estão presentes nos dois tipos de interação, especifica as marcas do diálogo erístico e indica como os atos de impolidez associam-se à argumentação. Os resultados permitem compreender o funcionamento da interação argumentativa erística no ambiente digital e como o processo de formação de bolhas ideológicas potencializa as oportunidades de confronto de posição.

Palavras-chave: polêmica argumentativa; interação argumentativa; modelo dialogal da argumentação; impolidez.

Abstract: This paper aims at analyzing two types of eristic argumentative interactions held in CNN Brazil YouTube channel: an interaction between debaters and mediators in the ‘Debate 360’ show and an interaction between the comments of the social network users about the same debate. The study draws on Plantin’s (2008) interactional perspective on argumentation, on Amossys’s (2018) view on argumentative polemics, on Walton’s (1998) conception of eristic dialogue and on Culpeper’s (2011) and Blitvich’s (2010) discussion on interactive impoliteness. The corpus is composed, in terms of the debate, of twelve argumentative interventions and, in terms of comments, of a chain of nine utterances, all of them characterized by the instantiation of eristic features. The analysis focuses on (1) the interaction between two specialists, mediated by two journalists, about a controverse theme – the usage of hydroxichloroquine on Covid-19 patients, and (2) the interaction between the social network users in reaction to the debaters’ argumentation. The study shows which characteristics of polemics are instantiated in both interactions, specifies the features of the eristic dialogue that characterize the interactions and indicates how impoliteness acts are associated with argumentation. The results enable to comprehend how eristic argumentative interactions work in the digital environment and how the formation of ideological bubbles affords opportunities for conflicts of opinion.

Keywords: argumentative polemics; argumentative interaction; dialogue model of argumentation; impoliteness.


Keywords


polêmica argumentativa; interação argumentativa; modelo dialogal da argumentação; impolidez; argumentative polemics; argumentative interaction; dialogue model of argumentation; impoliteness.

References


ALBARELLI, A. P. Uma análise da descortesia como estratégia de persuasão em interações polêmicas: o debate político. 2020. 378f. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2020. DOI http://doi.org/10.11606/T.8.2020.tde-18082020-170840.

AMOSSY, R. Argumentação e Análise do Discurso: perspectivas teóricas e recortes disciplinares. Tradução de Eduardo Piris e Moisés Ferreira. EID&A – Revista Eletrônica de Estudos Integrados em Discurso e Argumentação, Ilhéus, n. 1, p. 129-144, 2011. DOI: https://periodicos.uesc.br/index.php/eidea/article/view/389

AMOSSY, R. “Uma guerra civil” na França: a polêmica pública após os atentados de 2015. Tradução de Angela Correa. In: PIRIS, E.; AZEVEDO, I. (org.). Discurso e Argumentação: fotografias interdisciplinares. Coimbra: Grácio, 2018. p. 17-40. Disponível em: https://kutt.it/3Ibtop

BAKIR, V.; MCSTAY, A. Fake News and The Economy of Emotions. Digital Journalism, [S.l.], v. 6, n. 2, p. 154-175, 2017. DOI: https://doi.org/10.1080/21670811.2017.1345645

BARTON, D; LEE, C. Linguagem online: textos e práticas digitais. Tradução de Milton Motta. São Paulo: Parábola, 2015.

BENJAMIN, J. Eristic, Dialectic, and Rhetoric. Communication Quartely, [S.l.], v. 31, n. 1, p. 21-26, 1983. DOI: https://doi.org/10.1080/01463378309369481

BLITVICH, P. G. C. The YouTubification of Politics, Impoliteness and Polarization. In: TAIWO, R. (org.). Handbook of Research on Discourse Behavior and Digital Communication: Language Structures and Social Interaction. Hershey: IGI Global, 2010. p. 540-563. DOI: https://doi.org/10.4018/978-1-61520-773-2.ch035

BROWN, P.; LEVINSON, S. Politeness: Some Universals in Language Usage. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.

BURGESS, J.; GREEN, J. YouTube: Online Video and Participatory Culture: 2. ed. Cambridge: Polity Press, 2018.

CULPEPER, J. Towards an Anatomy of Impoliteness. Journal of Pragmatics, [S.l.], v. 25, n. 3, p. 349-367, 1996. DOI: https://doi.org/10.1016/0378-2166(95)00014-3

CULPEPER, J. Impoliteness and Entertainment in the Television Quiz Show: The Weakest Link. Journal of Politeness Research. Language, Behaviour, Culture, [S.l.], v. 1, n. 1, p. 35-72, 2005. DOI: http://doi.org/10.1515/jplr.2005.1.1.35

CULPEPER, J. Impoliteness: Using Language to Cause Offence. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.

CULPEPER, J.; HARDAKER, C. Impoliteness. In: CULPEPER, J.; HAUGH, M.; KÁDÁR, D. Z. (org.). The Palgrave Handbook of Linguistic (Im)politeness. London: Macmillan, 2017. p. 199-225. DOI: http://doi.org/10.1057/978-1-137-37508-7_9

DASCAL, M. Types of Polemics and Types of Polemical Moves. In: CMEJRKOVÁ, S.; HOFFMANNOVÁ, J.; MÜLLEROVÁ, O. (org.). Dialoganalyse VI/1. Tübingen: Verlag, 1998. p. 15-30. DOI: http://doi.org/10.1515/9783110965056

FÁVERO, L.; ANDRADE, M.; AQUINO, Z. Correção. In: JUBRAN, C. (org.). A construção do texto falado. São Paulo: Contexto, 2015. p. 241-256.

GOMES, L. F. Hipertexto no cotidiano escolar. São Paulo: Cortez, 2011.

GRÁCIO, R. A. Para uma teoria geral da argumentação: Questões teóricas e aplicações didácticas. 2010. 446f. Tese (Doutorado em Comunicação) – Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, 2010. Disponível em: http://hdl.handle.net/1822/12486

JOHNSON, R. Manifest Rationality: A Pragmatic Theory of Argument. Mahwah: Lawrence Erlbaum, 2000.

JUBRAN, C. et al. Organização tópica da conversação. In: ILARI, R. (org.). Gramática do português falado: níveis de Análise Linguística. Campinas: Editora da UNICAMP, 1992. v. 2, p. 357-439.

JUBRAN, C. Revisitando a noção de tópico discursivo. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 48, n. 1, p. 33-42, 2011. DOI: 10.20396/cel.v48i1.8637253

KERBRAT-ORECCHIONI, C. Análise da conversação: princípios e métodos. Tradução de Carlos Piovezani. Parábola: São Paulo, 2006.

KNOBLAUCH, H.; SCHNETTLER, B. Videography: Analysing Video Data as a 'Focused’ Ethnographic and Hermeneutical Exercise. Qualitative Research, [S.l.], v. 12, n. 3, p. 334-356, 2012. DOI: https://doi.org/10.1177/1468794111436147

MARTIN, J.; WHITE, P. The Language of Evaluation: Appraisal in English. Basingstoke: Macmillan, 2005.

PERELMAN, Ch.; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado da argumentação: a nova retórica. Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

PLANTIN, C. Le trilogue argumentatif. Présentation de modèle, analyse de cas. Langue Française, [S.l.], n. 112, p. 9-30, 1996. Disponível em: https://www.persee.fr/doc/lfr_0023-8368_1996_num_112_1_5358. Acesso em: 15 mar. 2021.

PLANTIN, C. A argumentação: história, teorias, perspectivas. Tradução de Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2008.

PLANTIN, C. Dictionnaire de l’argumentation. Une introduction aux études d’argumentation. Lyon: ENS Éditions, 2016.

PRETI, D. (org.). Análise de textos orais. 6. ed. São Paulo: FFLCH/USP, 2003.

SCHIFFRIN, D. Discourse Markers. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.

TOULMIN, S. Os usos do argumento. Tradução de Reinaldo Guarany. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

VAN LAAR, J. A. Argumentative Bluff in Eristic Discussion: An Analysis and Evaluation. Argumentation, [S.l.], v. 24, n. 3, p. 383-398, 2010. DOI https://doi.org/10.1007/s10503-010-9184-5.

WALTON, D. The New Dialectic: Conversational Contexts of Argument. Toronto: University of Toronto Press, 1998.

WALTON, D. Formalization of the Ad Hominem Argumentation Scheme. Journal of Applied Logic, [S.l.], v. 8, n. 1, p. 1-21, 2010. DOI: 10.1016/j.jal.2008.07.002




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.29.4.2289-1333

Refbacks

  • There are currently no refbacks.
';



Copyright (c) 2021 Isabel Cristina Michelan de Azevedo, Paulo Roberto Gonçalves-Segundo, Eduardo Lopes Piris

Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.

e - ISSN 2237-2083 

License

Licensed through  Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional