Arquitetura de capa dos folhetos de cordel: tradição e modernidade / Cordel leaflets cover architecture: tradition and modernity

Rodrigo Nunes da Silva, Linduarte Pereira Rodrigues

Abstract


Resumo: Amplamente conhecidos no Brasil, os folhetos de cordel têm produção ativa no Nordeste e caracterizam uma memória de grupo. Por essa razão, este artigo enfatiza a ideia de que esse gênero textual se manifesta e propaga-se pelo viés histórico-discursivo, apoiado por uma tradição oral e a partir de um modelo prototípico delineado. Conforme Rodrigues (2011), texto é produto de interação (comunicação e socialização) humana e extrapola aspectos meramente verbais, envolvendo elementos exteriores, e que são condizentes com o universo contextual e cultural, próprios da prática sócio-histórica, que é a linguagem. Com base numa pesquisa exploratória, descritiva e bibliográfica, o estudo investiga fenômenos de tradição, permanência e mudança presentes nas capas de folhetos de cordel. A partir de um viés simbólico-antropológico (DURAND, 2002) das ciências das significações, a pesquisa dialoga com os pressupostos teóricos das Tradições Discursivas (TD), difundidos por Kabatek (2006, 2012) e Coseriu (1980); além dos estudos culturais e de tradição oral (ZUMTHOR, 1993), folhetos de cordel e da Semiótica Antropológica (RODRIGUES, 2011, 2014a, 2014b, 2017, 2018a, 2018b). Por meio das análises efetuadas, conclui que os folhetos de cordel são instrumentos de representação e manutenção da memória popular nordestina, revelando nas capas retratos da região, sua cultura, memória e imaginário. Para além de sua estrutura (arquitetura e suporte), o cordel abre possibilidades múltiplas de estudo e compreensão de sua atuação/atualização como prática social na cultura nordestina através da leitura e composição verbo-visual/multimodal, o que permite sua continuidade e a manutenção das vozes da cultura que representa.

Palavras-chave: folhetos de cordel; multimodalidade; tradição; línguística da prática.

Abstract: Widely known in Brazil, cordel leaflets are active in the Northeastwhich characterizes a group memory. For this reason, this article emphasizes the idea that this textual genre is manifested and propagated by the historical-discursive bias, supported by an oral tradition and based on an outlined prototypical model. According to Rodrigues (2011), text is the product of human interaction (communication and socialization) and extrapolates purely verbal aspects, involving external elements, which are consistent with the contextual and cultural universe, proper to the socio-historical practice that is language. Based on exploratory, descriptive and bibliographic research, the study investigates phenomena of tradition, permanence and change present in the covers of cordel leaflets. Therefore, from a symbolic-anthropological bias (DURAND, 2002) of the sciences of meanings, the study dialogues with the theoretical assumptions of Discursive Traditions (TD), disseminated by Kabatek (2006, 2012) and Coseriu (1980); in addition to cultural studies and oral tradition (ZUMTHOR, 1993), cordel pamphlets and Anthropological Semiotics (RODRIGUES, 2011, 2014a, 2014b, 2017, 2018a, 2018b). Through the analyzes carried out, he concludes that the cordel leaflets are instruments of representation and maintenance of the Northeastern popular memory, revealing on their covers portraits of the region, its culture, memory and imagery. In addition to its structure (architecture and support), the cord opens multiple possibilities for study and understanding of its performance/updating as a social practice in northeastern culture through reading and verb-visual/multimodal composition, which allows its continuity and maintenance the voices of the culture it represents.

Keywords: cordel leaflets; multimodality; tradition; linguistics of practice.


Keywords


folhetos de cordel; multimodalidade; tradição; línguística da prática; cordel leaflets; multimodality; tradition; linguistics of practice.

References


ABREU, M. Diferença e desigualdade: preconceitos em leitura. In: MARINHO, M. (org.). Ler e navegar – espaços e percursos da leitura. Campinas: Mercado das Letras, 2001. p. 139-157.

BAKHTIN, M. (Voloshinov). Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2004.

BARROS, L. G. O cachorro dos mortos. São Paulo: Editora Prelúdio. Disponível em: http://cordel.edel.univ-poitiers.fr/viewer/show/115 Acesso em: 21 jan. 2021.

BATISTA, F. C. Literatura popular em verso: antologia. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1977.

BENTES, A. C.; REZENDE, R. C. Texto: conceitos, questões e fronteiras [con]textuais. In: SIGNORINI, I. (org.). [Re]discutir texto e gênero. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. p. 19-46.

BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2007.

CORDEIRO, D. B. A simbologia zodiacal e o discurso do horóscopo em suportes midiáticos: um olhar para as tradições imagético-discursivas. In: JORNADA NACIONAL DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS – GELNE: TRADIÇÕES DISCURSIVAS E ESTUDOS FILOLÓGICOS, XXVI, 2016, Natal. Anais eletrônicos [...]. Natal: Pipa Comunicações, 2017. p. 3-14.

COSERIU, E. O homem e sua linguagem. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1980.

DIAS, E. T. A confluência de linguagem no gênero cordel: do oral à escrita. 2018. 251f. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2018.

DURAND. G. As estruturas antropológicas do imaginário: introdução à arquetipologia geral. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.

GALVÃO, A. M. O. Cordel, leitores e ouvintes. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

GRANGEIRO, C. R. P. O discurso religioso na literatura de cordel de Juazeiro do Norte. Crato: A província edições, 2002.

JUNG, C. G. O homem e seus símbolos. 3. ed. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2016.

KABATEK, J. Tradições Discursivas e mudanças linguísticas. In: LOBO, T. et al. (org.). Para a história do Português Brasileiro. Salvador: EDUFBA, 2006. p. 505-527.

KABATEK, J. Tradição discursiva e gênero. In: LOBO, T. et al. (org.). Rosae: linguística histórica, história das línguas e outras histórias. Salvador: EDUFBA, 2012. p. 579-588. Disponível em: http://books.scielo.org/id/67y3k/pdf/lobo-9788523212308-42.pdf. Acesso em: 15 out. 2021.

LE GOFF, J. História e memória. 5. ed. Trad. Bernardo Leitão. Campinas: Editora da Unicamp, 2003.

LINS, O. A rainha dos cárceres da Grécia. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

LONGHIN, S. R. Tradições discursivas: conceitos, história e aquisição. São Paulo: Cortez, 2014.

MELLO, B. A. “Movência” de paradigmas no cordel: do canto ao ciberespaço. In: SÁ JÚNIOR, L. A. de; OLIVEIRA, A. P. de. (org.). Literatura e ensino: reflexões e propostas. Nata: EDUFRN, 2013. p. 163-178.

PEREIRA SOBRINHO, Manoel. Cachorro dos mortos trazem. São Paulo: Prelúdio, 1957.

PIERCE. C. S. Semiótica. Trad. José Teixeira Coelho Neto. São Paulo: Perspectiva, 2000.

RODRIGUES, L. P. A tríade do signo. In: JORNADA NACIONAL DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS – GELNE, XX., 2004, João Pessoa. Anais [...] João Pessoa: Ideia, 2004. p.1439-1448.

RODRIGUES, L. P. Vozes do fim dos tempos: profecias em escrituras midiáticas. 2011. 431f. Tese (Doutorado em Linguística) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2011.

RODRIGUES, L. P. Plasticidade das vozes e escrituras do cordel de fim dos tempos: tradição e modernidade. Revista do GELNE, Natal, v. 15, n. 1/2, p. 249-265, 2013.

RODRIGUES, L. P. O “entre-lugar” dos folhetos de cordel no século XXI. Boitatá: Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL, Londrina, v. 1, n. 18, p. 158-176, 2014a.

RODRIGUES, L. P. Tríade arquetípica do feminino no imaginário religioso cristão: Eva, Maria e Madalena. In: SILVA, A. P. D. et al. (org.). Artimanhas do desejo: ensaios de literatura, psicologia, linguagens. São Paulo: Scortecci, 2014b. p. 189-208.

RODRIGUES, L. P. Por uma linguística da prática. In: ATAÍDE, C. et al. (org.). GELNE 40 ANOS: Experiências teóricas e práticas nas pesquisas em Linguística e Literatura. São Paulo: Blucher, 2017. p. 69-89.

RODRIGUES, L. P. O anúncio publicitário na escatologia dos folhetos de cordel. Labor Histórico, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, p. 69-80, 2018a. DOI: https://doi.org/10.24206/lh.v4i2.17499

RODRIGUES, L. P. Memória e documento: o cordel, monumento da cultura das vozes. In: ASSUNÇÃO, L.; MELLO, B. A. A. (org.). Paul Zumthor: memória das vozes. São Paulo: Assimetria Editora, 2018b. p. 221-249.

SANTAELLA, L. Matrizes da linguagem e pensamento: sonora, visual e verbal: aplicações na hipermídia. 3. ed. São Paulo: Iluminuras; FAPESP, 2005.

SANTOS, H. S. Eugenio Coseriu: uma mudança radical na perspectiva linguística. Linguagem em (Re)vista, Niterói, n 17/18, p.62-74, 2014.

SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

SILVA, R. N. Representação do homem do Nordeste e identidade masculina na literatura de cordel. 2014. 78f. Monografia (Graduação em Letras) –Centro de Educação, Universidade Estadual da Paraíba, João Pessoa, 2014.

SILVA, R. N. Folhetos de cordel no letramento escolar: a aula de leitura revisitada. 2017. 323f. Dissertação (Mestrado em Formação de Professores) – Centro de Educação, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2017.

ZUMTHOR, P. A letra e a voz. Trad. Amálio Pinheiro e Jerusa Pires Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

ZUMTHOR, P. Performance, recepção e leitura. Trad. Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: EDUC, 2000.


Refbacks

  • There are currently no refbacks.
';



Copyright (c) 2021 Rodrigo Nunes Silva, Linduarte Pereira Rodrigues

Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.

e - ISSN 2237-2083 

License

Licensed through  Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional