
(Jogos Perigosos, 1990 – Leonilson) “Se me sento para escrever o relato de todas as vezes que ‘levantei a cabeça’ provocado pela leitura, isso é um ensaio”. Retomando a proposta de Roland Barthes, as palavras de Eduardo Grüner expõem, em sua precisa imprecisão, duas questões fundamentais ao gênero nomeado por Montaigne nos idos do século XVI: especulação e experiência. Irredutível a recortes temáticos, estilísticos ou metodológicos, a prosa ensaística coloca-nos, de saída, diante de um paradoxo: o terreno movediço onde ela se assenta é definido, precisamente, pela recusa à definição. Mas, se seu contorno é fugidio e acolhe todo tipo de objeto – ou melhor, questiona tipificações, noções de "objeto” – como reconhecer sua especificidade? Ainda que ligeiramente distintas em alguns casos e notadamente conflitantes em outros, as leituras de György Lukács, Max Bense, Theodor Adorno, Alberto Giordano, Diamela Eltit, Beatriz Sarlo, Virgínia Wolf, Jean Starobinski, Paulo Roberto Pires, César Aira e Alexandre Eulálio encontram-se num ponto: o que faz de um texto um ensaio não é a forma, nem o conteúdo, mas a perspectiva. Trata-se do movimento de aproximação a um saber que, ao se configurar como uma deriva exploratória, coloca em ato o gesto crítico da especulação. O ensaio é, nesse sentido, um ato político por excelência: tomando a experiência como seu único princípio regulador, assume a enunciação em nome próprio como pressuposto e finalidade para elaborar linhas de fuga capazes de colocar em xeque, via reverberações afetivas, as noções tradicionais de método e verdade. Postando-se como um gesto de dissenso que desorganiza o ordenamento hegemônico, reconfigura a partilha do sensível inaugurando novas formas de visibilidade e inteligibilidade. Neste dossiê, a revista Em Tese propõe publicar artigos que, sem perder de vista essa potencialidade política, se dediquem a pensar o papel ocupado pela forma do ensaio no interior do campo dos estudos literários – seja a partir de reflexões teóricas sobre o gênero, seja por meio da análise da obra ensaística de escritores e artistas – e elaborem discussões a respeito das renovadas possibilidades de crítica e diferentes regimes de leitura que esse tipo de expressão agencia. Prazo para submissões: 31/03/2023. Vale lembrar que as seções Ensino de Literatura; Tradução e Edição; Resenhas; e Em Tese recebem submissões em fluxo contínuo sobre temas que não necessitam estar relacionados ao tópico do dossiê.
A submissão de artigos para a seção Teoria, Crítica Literária e Outras Artes e Mídias está temporariamente suspensa, em virtude do alto número de artigos já recebidos.
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