A NARRATIVA MÍTICA, HERÓICA E CRÍTICA DA GUERRA: DIÁLOGO POÉTICO ENTRE A GRUTA AMERICANA, DE SILVA ALVARENGA, E O CANTO HERÓICO, DE CLÁUDIO MANUEL DA COSTA

Carlos Versiani dos Anjos

Resumo


Resumo: Manoel Inácio da Silva Alvarenga é detentor de uma obra vasta, eclética e riquíssima, caracterizada pelo espírito crítico e pela obediência à simplicidade e naturalidade próprias do arcadismo, mas que se envereda também pela narrativa mítica e fantástica. É o caso do poema A Gruta Americana, publicado no ano de 1779 e escrito em Minas Gerais, dois anos após Alvarenga retornar de Portugal. O poema trata da participação da capitania de Minas Gerais nas tropas arregimentadas para fazer frente às invasões espanholas ao sul do Brasil, ocorridas no início de 1777. Compõe-se como um grande quadro alegórico, no qual a história da guerra é contada por uma entidade indígena que habita uma gruta encravada nos sertões das Minas. O canto mágico que ecoa da gruta é precedido por uma narrativa que descreve detalhadamente o cenário, os personagens e os elementos que lá se escondem. Neste artigo, é feita uma analogia desta obra com o poema Canto Heroico, de Cláudio Manuel da Costa, que versa sobre o mesmo tema, sendo possível perceber visões e estilos que ora se aproximam, ora se distanciam, mas que certamente estabelecem um diálogo rico e fecundo, de grande qualidade estética, como era comum entre os árcades ultramarinos, ilustres representantes da poesia brasileira do século XVIII.

Palavras-chave: arcadismo; século XVIII; Silva Alvarenga; Cláudio Manuel; Minas Gerais.


Abstract: Manoel Inácio da Silva Alvarenga has a vast, eclectic and rich body of work, characterized by a critical spirit and obedience to the simplicity and naturalness typical of Arcadianism, but which also includes mythical and fantastic narratives. Such is the case of the poem A Gruta Americana, published in 1779 and written in Minas Gerais, two years after Alvarenga returned from Portugal. The poem addresses the participation of the captaincy of Minas Gerais in the troops assembled to face the Spanish invasions of southern Brazil in early 1777. The poem composes a large allegorical picture, in which the history of the war is told by an Indigenous entity who inhabits a cave carved into the hinterlands. The magical chant that echoes from the cave is preceded by a narrative that details the setting, characters and elements hidden there. This paper proposes an analogy of this work with Cláudio Manuel da Costa’s Canto Heroico, poem that addresses the same theme. One can observe perspectives and styles that are, at times, incredibly similar and completely different, but which establish rich and fruitful dialogues, of great aesthetic quality, as was common among the overseas Arcadians, illustrious representatives of 18th century Brazilian poetry.


Keywords: arcadianism; 18th century; Silva Alvarenga; Claudio Manuel; Minas Gerais.


Palavras-chave


arcadismo; século XVIII; Silva Alvarenga; Cláudio Manuel; Minas Gerais; 18th century.

Texto completo:

PDF

Referências


ALVARENGA, Manuel Inácio da Silva. A gruta americana. In: SILVA, J. N. S. Obras poéticas de Manoel Ignacio da Silva Alvarenga. Rio de Janeiro: Garnier, 1864. p. 275-280.

ALVARENGA, Manuel Inácio da Silva. A gruta americana: por Alcindo Palmireno arcade ultramarino a Termindo Sipilio arcade romano. Lisboa: Regia Officina Typografica, 1779.

ALVARENGA, Manuel Inácio da Silva. A Termindo Sipilio arcade romano por Alcindo Palmireno arcade ultramarino: epístola. Coimbra: Officina de Pedro Ginioux, 1772.

ALVARENGA, Manuel Inácio da Silva. O canto dos pastores: por Manoel Ignacio da Silva Alvarenga, arcade ultramarino. Lisboa: Regia Officina Typografica, 1780.

ALVARENGA, Manuel Inácio da Silva. O Desertor: poema heroi-comico por Manoel Ignacio da Silva Alvarenga, na arcádia ultramarina Alcindo Palmireno. Coimbra: Real Officina da Universidade, 1774.

ALVARENGA, Manuel Inácio da Silva. O templo de Netuno: por Alcindo Palmireno arcade ultramarino. Lisboa: Regia Officina Typografica, 1777.

BRAGA, Teófilo. História da literatura portuguesa: os árcades. vol. 4. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), 1984.

COSTA, Cláudio Manuel da. Canto heroico a D. Antônio de Noronha. In: PROENÇA FILHO, Domício (Org.). A poesia dos Inconfidentes: poesia completa de Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996a.

COSTA, Cláudio Manuel da. Vila Rica. In: PROENÇA FILHO, Domício (Org.). A poesia dos Inconfidentes: poesia completa de Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996b.

LAPA, Manuel Rodrigues. Vida e obra de Alvarenga Peixoto. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1960.

MELLO E SOUZA, Laura de. Cláudio Manuel da Costa. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

SILVA, Joaquim Norberto de Sousa. Obras poéticas de Manoel Ignacio da Silva Alvarenga. Rio de Janeiro: Garnier, 1864.

TOPA, Francisco. Para uma edição crítica da obra do árcade brasileiro Silva Alvarenga: inventário sistemático dos seus textos e publicação de novas versões, dispersos e inéditos. Porto: Edição do Autor, 1998.

VERSIANI, Carlos. A Arcádia Romana e a Arcádia Ultramarina: diálogos literários entre a Itália e o Brasil na segunda metade do século XVIII. O Eixo e a Roda, Belo Horizonte, v. 28, n. 3, 2019.

VERSIANI, Carlos. Cláudio Manuel e o drama da morte de Alexandre Magno. Caletroscópio, Mariana, v. 4, p. 88-118, 2016. Número Especial.

VERSIANI, Carlos. O movimento arcádico no Brasil setecentista: significado político e cultural da Arcádia Ultramarina. 2015. 236 f. Tese de Doutorado. Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, 2015.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.31.2.108-123

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2022 Carlos Versiani dos Anjos

Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira
ISSN 0102-4809 (impressa) / ISSN  2358-9787 (eletrônica)

License

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.